Redação - Prova Medicina - FMABC 2026

Gabarito

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Texto 1

   O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional a regra da Lei nº 9.263/1996 que condicionava a esterilização voluntária — como laqueadura e vasectomia — à idade mínima de 21 anos ou à existência de pelo menos dois filhos vivos. A decisão foi tomada no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5911, e considerou que a exigência legal violava princípios fundamentais como a autonomia corporal e a liberdade reprodutiva. A maioria dos ministros entendeu que a norma impunha uma restrição indevida ao direito da pessoa de decidir sobre o próprio corpo e sua capacidade reprodutiva.

(“STF libera laqueadura e vasectomia sem idade mínima ou filhos”. www.otempo.com.br, 07.07.2025. Adaptado.)

Texto 2

   Para o advogado Ricardo Calderón, diretor nacional do Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM), não cabe ao Estado controlar a vontade de uma pessoa de ter filhos ou não. “É necessário respeitar a liberdade de escolha das pessoas e a autodeterminação delas sobre seu corpo e direito reprodutivo. Uma pessoa com mais de 18 anos tem capacidade de direito civil. Precisa haver o aconselhamento médico, mas a decisão de reger sobre o próprio corpo cabe ao indivíduo e não ao Estado”, pontua o advogado. “Desaconselhar uma mulher da decisão de não ter filhos ou ferir esse direito é um ato patriarcal”, acrescenta.
   O urologista e membro do Conselho Federal de Medicina (CFM) José Elêrton defende: “Se aos 18 anos o indivíduo pode dirigir, votar e responder criminalmente pelos seus atos, ele já tem autonomia para decidir se quer ou não ter filhos e fazer o procedimento” 

(Simone Machado. “Proibição de laqueadura e vasectomia em jovens: o que está em jogo no julgamento do STF”. www.bbc.com, 12.03.2025. Adaptado.)

Texto 3

   A redução da idade mínima para 18 anos para a realização de esterilização voluntária — vasectomia ou laqueadura — pode gerar impactos negativos na demografia brasileira, prejudicar os recursos para a previdência, além fomentar uma sociedade mais individualista. André Gonçalves, jurista e doutor em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alerta que as políticas brasileiras ainda estão aquém no fomento à natalidade. “Há um desequilíbrio na atuação governamental muito em favor do aspecto anticonceptivo ou antifamiliar do que no sentido favorável à concepção”, enfatiza.

   Esses dois procedimentos de esterilização voluntária são métodos contraceptivos cirúrgicos. Em caso de arrependimento, é possível realizar uma nova cirurgia para reversão, que nem sempre é bem-sucedida. No caso das mulheres, há riscos como a gravidez ectópica — quando o embrião se desenvolve fora do local adequado no útero. Medidas como essas também geram impactos negativos nos desafios demográficos para o Brasil nas próximas décadas. Rodolfo Canônico, diretor-executivo do Family Talks, organização que incentiva políticas públicas familiares, aponta que a redução da idade para esterilização cria umatensão entre a autonomia individual no planejamento familiar e a realidade de declínio populacional e baixa taxa de natalidade. “No Brasil, a taxa de natalidade é de apenas 1,6 filhos por mulher. Isso significa que, se não houver mudanças nesse cenário, a população brasileira vai diminuir ao longo do século 21 e vai envelhecer rapidamente”, ressalta Canônico.

   André Gonçalves acrescenta que a possibilidade de esterilização precoce irrestrita pode levar a uma transformação na concepção de família. “As pessoas passam a enxergar, sob certo aspecto, que é muito conveniente estar esterilizado para garantir uma vida mais individualista.” Ele alerta que essa mentalidade tende a fomentar um comportamento egoísta, tornando a sociedade menos aberta às necessidades dos outros.

(Marlice Pinto Vilela. “Vasectomia e laqueadura aos 18 anos ameaçam previdência e ignoram possível arrependimento futuro”. www.gazetadopovo.com.br, 12.03.2025. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

Os impactos da esterilização voluntária
em jovens no Brasil

Comentário:

A redação da FMACB 2026 apresentou como tema “Os impactos da esterilização voluntária em jovens no Brasil”. A coletânea, composta de três textos motivadores, oferece aos candidatos elementos para compreender tanto o conceito de esterilização voluntária como seus possíveis impactos, isto é, as consequências decorrentes dessa prática. Assim, seria essencial a leitura atenta dos excertos para formular um ponto de vista seguro sobre o tema.

O Texto 1 traz uma notícia sobre decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo a qual é inconstitucional a antiga Lei nº 9.263/1996, que estabelecia o direito à esterilização voluntária como forma de contracepção apenas a jovens com mais de 21 anos, e não 18, idade da maioridade legal no Brasil, ou com ao menos dois filhos vivos. De acordo com o STF, tal regra violava o “direito da pessoa de decidir sobre o próprio corpo e sua capacidade reprodutiva”.

O Texto 2 reitera a opinião apresentada pelo excerto citado por meio da opinião de Ricardo Calderón: o advogado defende que o Estado não pode interferir na liberdade de escolha de uma pessoa quanto a seu corpo e a seu direito reprodutivo. Propõe, ainda, que a maioridade legal deve coincidir com a idade mínima para a esterilização voluntária: “Se aos 18 anos o indivíduo pode dirigir, votar e responder criminalmente pelos seus atos, ele já tem autonomia para decidir se quer ou não ter filhos."

Já o Texto 3 discute os possíveis impactos da decisão do STF sobre a demografia brasileira, a previdência social e o individualismo contemporâneo. Segundo Rodolfo Canônico, diretor-executivo do Family Talks, a redução da idade mínima para a esterilização voluntária tende a diminuir a taxa de natalidade, contribuindo para o envelhecimento populacional. Essa mudança na pirâmide etária é vista como uma ameaça à economia, pois pode reduzir a população economicamente ativa e dificultar o acesso à aposentadoria.

Diante do conjunto de textos da coletânea, esperava-se que o candidato:

(i) Compreendesse e definisse o significado de “esterilização voluntária”, relativa ao direito do cidadão de se submeter, se assim desejar, a um procedimento cirúrgico esterilizante para fins de contracepção;

(ii) Aludisse, ainda que brevemente, à decisão do STF como parte da contextualização do tema;

(iii) Mencionasse, mesmo que de forma concisa, os argumentos favoráveis à decisão do STF, apresentados nos textos 1 e 2 da proposta;

(iv) Argumentasse sobre um ou mais impactos da mudança na idade mínima para o procedimento de esterilização voluntária, conforme expostos no Texto 3.

Exemplo de Redação:

Em 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou como ilegal a imposição de barreiras à esterilização voluntária estabelecida pela Lei nº 9.263/1996. A norma exigia, para a realização do procedimento, que o indivíduo tivesse mais de 21 anos ou ao menos dois filhos vivos, o que, conforme decisão recente, violaria a liberdade de escolha do sujeito. Por mais que seja essencial garantir aos brasileiros o acesso a métodos contraceptivos seguros – inclusive a esterilização –, esse assunto gerou polêmica em razão dos possíveis impactos da medida do STF para o futuro do país. Assim, se, por um lado, a revisão da idade mínima para tal procedimento seja necessária para garantir a autonomia dos cidadãos sobre o próprio corpo, por outro, a medida pode ameaçar a economia brasileira ao gerar o envelhecimento populacional.

Por um lado, avalia-se que a maior flexibilização da idade mínima para realizar a esterilização voluntária é importante para conceder aos indivíduos autonomia sobre o próprio corpo. Na área jurídica, o conceito de “direito negativo” estabelece que, em algumas ocasiões, as garantias previstas em Constituição são alcançadas não pela ação do Estado, mas por sua inação. Isso é observado no caso dos direitos reprodutivos, uma vez que o sujeito só consegue exercer plenamente sua liberdade de escolha quando o governo se isenta de impor-lhe regras e restrições as quais possam gerar, por exemplo, uma gestação indesejada. Logo, o menor controle estatal sobre os corpos brasileiros, a partir da liberação da esterilização voluntária a todos os indivíduos maiores de idade, é essencial para garantir à população verdadeira autonomia.

Por outro lado, é fato que a esterilização pode ameaçar a economia nacional se for adotada por muitos brasileiros. Tal relação se deve à mudança na pirâmide etária do país: a ampliação de métodos contraceptivos tende a abaixar os índices de natalidade, tendo como consequência o envelhecimento da população. Esse fenômeno já foi observado em países europeus, os quais, em razão da diminuição progressiva da População Economicamente Ativa (PEA), precisaram incentivar uma maior natalidade, bem como a imigração de trabalhadores estrangeiros. Diante disso, o cenário de crise econômica e a falta de mão de obra advinda dele podem alcançar o Brasil, principalmente caso a esterilização voluntária se popularize, diminuindo, nas próximas gerações, a PEA.

Portanto, a esterilização voluntária é necessária para garantir aos jovens brasileiros plena liberdade de escolha sobre o próprio corpo. No entanto, a medida do STF pode trazer, como impacto, uma ameaça à economia nacional, já que pode popularizar tal procedimento como método contraceptivo.

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