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Para responder às questões de 15 a 20, leia o trecho do romance São Bernardo, publicado originalmente em 1934, do escritor Graciliano Ramos (1892-1953).
Amanheci um dia pensando em casar. Foi uma ideia que me veio sem que nenhum rabo de saia a provocasse. Não me ocupo com amores, devem ter notado, e sempre me pareceu que mulher é um bicho esquisito, difícil de governar.
A que eu conhecia era a Rosa do Marciano, muito ordinária. Havia conhecido também a Germana e outras dessa laia. Por elas eu julgava todas. Não me sentia, pois, inclinado para nenhuma: o que sentia era desejo de preparar um herdeiro para as terras de S. Bernardo.
Tentei fantasiar uma criatura alta, sadia, com trinta anos, cabelos pretos — mas parei aí. Sou incapaz de imaginação, e as coisas boas que mencionei vinham destacadas, nunca se juntando para formar um ser completo. Lembrei-me de senhoras minhas conhecidas: d. Emília Mendonça, uma Gama, a irmã de Azevedo Gondim, d. Marcela, filha do dr. Magalhães, juiz de direito.
Nesse ponto surgiu-me um pequeno contratempo. Uma tarde surpreendi no oitão1 da capela (a capela estava concluída; faltava pintura) Luís Padilha discursando para
Marciano e Casimiro Lopes:
— Um roubo. É o que tem sido demonstrado categoricamente pelos filósofos e vem nos livros. Vejam: mais de uma légua de terra, casas, mata, açude, gado, tudo de um homem. Não está certo.
Marciano, mulato esbodegado, regalou-se, entronchando- se todo e mostrando as gengivas banguelas:
— O senhor tem razão, seu Padilha. Eu não entendo, sou bruto, mas perco o sono assuntando nisso. A gente se mata por causa dos outros. É ou não é, Casimiro?
Casimiro Lopes franziu as ventas, declarou que as coisas desde o começo do mundo tinham dono.
— Qual dono! gritou Padilha. O que há é que morremos trabalhando para enriquecer os outros.
Saí da sacristia e estourei:
— Trabalhando em quê? Em que é que você trabalha, parasita, preguiçoso, lambaio2?
— Não é nada não, seu Paulo, defendeu-se Padilha, trêmulo. Estava aqui desenvolvendo umas teorias aos rapazes.
Atirei uma porção de desaforos aos dois, mandei que arrumassem a trouxa, fossem para a casa do diabo.
— Em minha terra não, acabei, já rouco. Puxem! Das cancelas para dentro ninguém mija fora do caco. Peguem as suas burundangas3 e danem-se.
(São Bernardo, 1996.)
1 oitão: cada uma das paredes que formam as fachadas laterais dos edifícios.
2 lambaio: desqualificado.
3 burundanga: ninharia.
As reflexões do narrador Paulo Honório nos três primeiros parágrafos permitem caracterizá-lo como
autoritário e misógino.
romântico e inconsequente.
dissimulado e invejoso.
fantasioso e melancólico.
impulsivo e perdulário.
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