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Leia o texto “Homo hibridus”, do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, para responder às questões de 02 a 07.
Nossa história ninguém conhece direito, é mistério em pleno descobrimento. A cada novo achado fóssil, a cada nova ossada arcaica que emerge, a cada nova tumba, involuntária ou não, temos de rever nossa saga.
A narrativa construída ao longo do século XX contava que viemos todos de uma única linhagem emigrada da África há não mais que 120 mil anos. Essa onda migratória de Homo sapiens teria aos poucos se espalhado por todo o planeta, substituindo por completo nossos primos Homo erectus e neandertais, que ocupavam a Eurásia. O continente ocupado mais recentemente teria sido a América, a partir de uma migração recente pelo estreito de Bering, que liga a Sibéria ao Alasca, após a última glaciação. Uma cultura paleolítica do Novo México, denominada Clovis, teria sido a primeira população humana da América do Norte, há cerca de 13 mil anos. Sucessivas ondas migratórias teriam então chegado ao restante do continente, do norte para o sul. Essa teoria foi apoiada pelos avanços da biologia molecular na década de 1980, com a análise de DNA mitocondrial de populações atuais. Entre o passado e o presente, uma linha reta, uma raiz clara, uma narrativa confortável.
Entretanto, as pesquisas moleculares da última década, realizadas com DNA mitocondrial e autossômico de diversos achados fósseis, indicam que nada disso se passou. Ou melhor, provavelmente tudo isso se passou muitas vezes. As últimas dezenas de milhares de anos são uma barafunda complexa de fios que tentamos desembaraçar, separando em camadas as tranças de cabelo do tempo. Não viemos de uma única linhagem: nosso passado é um rizoma de tipos diferentes de seres humanos.
Há semelhanças genéticas, por exemplo, entre espécimes de Homo heidelbergensis que viveram no norte da Espanha há 400 mil anos e hominídeos siberianos de apenas 40 mil anos atrás, chamados de denisovanos. A análise de DNA autossômico indica que os denisovanos eram mais aparentados com os neandertais do que com o Homo sapiens, mas o DNA mitocondrial indica cruzamento com algum outro tipo de hominídeo ainda não identificado. Hoje está claro que, com exceção das populações subsaarianas, há cerca de 4% de DNA neandertal no genoma humano. Da mesma maneira, de 4% a 6% do DNA de populações da Austrália e da Melanésia provém dos denisovanos.
Para complicar o cenário, acumulam-se evidências de ocupação humana na América antes da cultura Clovis. Notavelmente, o sítio de Pedra Furada, no Piauí, apresenta indícios de presença humana com até 55 mil anos de idade. Descoberto em 1973 pela arqueóloga Niède Guidon, o sítio de Pedra Furada tem a datação e a natureza de seus vestígios disputadas, mas a descoberta de outros sítios pré-Clovis em outras partes do continente tem feito a balança pender para a ideia de que ondas migratórias sucessivas atravessaram a América bem antes do que se pensava. A história ainda será reescrita muitas vezes, até entendermos nossa trajetória complexa e vertiginosa. Uma certeza, contudo, já se apresenta: não existe raça pura, somos híbridos desde o início.
(Sidarta Ribeiro. Limiar: ciência e vida contemporânea, 2020.)
Com finalidade expressiva, o autor recorre a um enunciado aparentemente paradoxal em:
“Nossa história ninguém conhece direito, é mistério em pleno descobrimento.” (1º parágrafo)
“Ou melhor, provavelmente tudo isso se passou muitas vezes.” (3º parágrafo)
“Para complicar o cenário, acumulam-se evidências de ocupação humana na América antes da cultura Clovis.” (5º parágrafo)
“A história ainda será reescrita muitas vezes, até entendermos nossa trajetória complexa e vertiginosa.” (5º parágrafo)
“Uma certeza, contudo, já se apresenta: não existe raça pura, somos híbridos desde o início.” (5º parágrafo)
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