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Para responder às questões de 03 a 07, leia um trecho da obra Ideias para adiar o fim do mundo, uma adaptação de duas palestras e uma entrevista realizadas com o autor Ailton Krenak.
O fim do mundo talvez seja uma breve interrupção de um estado de prazer extasiante que a gente não quer perder. Parece que todos os artifícios que foram buscados pelos nossos ancestrais e por nós têm a ver com essa sensação. Quando se transfere isso para a mercadoria, para os objetos, para as coisas exteriores, se materializa no que a técnica desenvolveu, no aparato todo que se foi sobrepondo ao corpo da mãe Terra. Todas as histórias antigas chamam a Terra de Mãe, Pacha Mama, Gaia. Uma deusa perfeita e infindável, fluxo de graça, beleza e fartura. Veja-se a imagem grega da deusa da prosperidade, que tem uma que fica o tempo todo jorrando riqueza sobre o mundo… Noutras tradições, na China e na Índia, nas Américas, em todas as culturas mais antigas, a referência é de uma provedora maternal. Não tem nada a ver com a imagem masculina ou do pai. Todas as vezes que a imagem do pai rompe nessa paisagem é sempre para depredar, detonar e dominar.
O desconforto que a ciência moderna, as tecnologias, as movimentações que resultaram naquilo que chamamos de “revoluções de massa”, tudo isso não ficou localizado numa região, mas cindiu o planeta a ponto de, no século XX, termos situações como a Guerra Fria, em que você tinha, de um lado do muro, uma parte da humanidade, e a outra, do lado de lá, na maior tensão, pronta para puxar o gatilho para cima dos outros. Não tem fim do mundo mais iminente do que quando você tem um mundo do lado de lá do muro e um do lado de cá, ambos tentando adivinhar o que o outro está fazendo. Isso é um abismo, isso é uma queda. Então a pergunta a fazer seria: “Por que tanto medo assim de uma queda se a gente não fez nada nas outras eras senão cair?”.
Já caímos em diferentes escalas e em diferentes lugares do mundo. Mas temos muito medo do que vai acontecer quando a gente cair. Sentimos insegurança, uma paranoia da
queda porque as outras possibilidades que se abrem exigem implodir essa casa que herdamos, que confortavelmente carregamos em grande estilo, mas passamos o tempo inteiro morrendo de medo. Então, talvez o que a gente tenha de fazer é descobrir um paraquedas. Não eliminar a queda, mas inventar e fabricar milhares de paraquedas coloridos, divertidos, inclusive prazerosos. Já que aquilo de que realmente gostamos é gozar, viver no prazer aqui na Terra. Então, que a gente pare de despistar essa nossa vocação e, em vez de ficar inventando outras parábolas, que a gente se renda a essa principal e não se deixe iludir com o aparato da técnica.
(Ideias para adiar o fim do mundo, 2020.)
¹ cornucópia: vaso em forma de chifre, com frutas e flores que dele extravasam profusamente, antigo símbolo da fertilidade, riqueza e abundância.
No primeiro parágrafo do texto, o autor estabelece uma contraposição simbólica entre o feminino e o masculino para
ilustrar como a figura feminina da Terra é associada à abundância, enquanto a figura masculina é mais relacionada à força destrutiva.
destacar o papel central do homem nas antigas mitologias, como expressão de força física e racionalidade.
criticar a ausência de figuras masculinas nas tradições culturais mais antigas, que valorizavam apenas o sagrado feminino.
defender que as sociedades atuais priorizam o culto ao pai, símbolo da proteção e da autoridade, em detrimento da Mãe Terra.
argumentar em favor do progresso, associado ao masculino, como um complemento necessário, no mundo moderno, à figura materna primitiva.
No contexto, o autor explora uma dimensão figurada da imagem de “Mãe Terra”, associando essa expressão à ideia de abundância e providência, o que revela um uso histórico e consensual da figura feminina, sempre atrelada a conceitos positivos. Em contrapartida, Krenak aponta que a figura masculina está frequentemente associada à destruição, à perversidade e à agressividade, o que estabelece, portanto, uma relação antitética com a imagem feminina.
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