Dissertativas 13 - 2ª Fase - Dia 2 - Unicamp 2025

Gabarito

Questão 13

Dissertativa
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O texto a seguir faz uma apresentação do Projeto Seringueiros, idealizado pelo ativista Chico Mendes (1944-1988) e pela antropóloga Mary Allegetti. 

O Projeto Seringueiros, que adotou a metodologia de Paulo Freire, foi criado em 1981 por Chico Mendes e Mary Allegretti. Seu objetivo era preparar instrutores para ensinar os seringueiros − pessoas que até então eram mantidas em semiescravidão por seus patrões dos seringais – a ler e escrever. Esses patrões se aproveitavam do fato de os seringueiros não saberem os números, nem as letras e, por isso, sempre os deixavam com dívidas gigantescas. A primeira escola foi construída no Seringal Nazaré e era um pequeno barraco de pau-a-pique, muito simples e rústico. A área de atuação do projeto foi a região de Xapuri e Epitaciolândia. Este projeto foi reconhecido e recebeu diversos prêmios, inclusive do UNICEF-Brasil. 

(Traduzido e adaptado de MENDES, A.; SANTOS, C; MORAES, E.; GUAJAJARA, S.B. Chico Mendes Lives: Amazon women in defense of life. Ambient soc [Internet]. 24:e0154, 2021.) 

Tendo em vista seus conhecimentos históricos e considerando o projeto apresentado no excerto,

a) descreva as formas de atuação de Chico Mendes na floresta Amazônica.

b) descreva a forma de exploração do trabalho apresentada no texto. Cite e descreva duas outras formas de exploração do trabalho no Brasil do século XIX.

Resolução:

a) Chico Mendes foi um ativista ambiental e líder sindical brasileiro de renome no Brasil e no exterior, particularmente nas décadas de 1970 e 1980. Mendes conectou-se à criação de políticas ambientais de preservação da Floresta Amazônica e desenvolvimento sustentável, principalmente nas questões ligadas às áreas dos seringais amazônicos. Nesse sentido, o líder ambientalista envolveu-se também em lutas sociais, como demonstrado no texto, com a preocupação dasem relação às condições de vida e de trabalho dos seringueiros e de comunidades ribeirinhas da Amazônia, defendendo  a determinação de direitos para esses trabalhadores por meio da criação de sindicatos de trabalhadores rurais. Também, como demonstrado no texto, várias de suas atuações ocorreram em áreas indígenas, o que denota a preocupação do ativista com as questões do estabelecimento de direitos dos povos originários, tema amplamente debatido e consolidado na Constituição de 1988.
Como líder sindical, organizando protestos e utilizando tanto a mídia nacional como a mídia internacional, Chico Mendes denunciou o aumento do desmatamento da Floresta Amazônica e seus impactos ambientais. A atuação de Chico Mendes rendeu-lhe reconhecimento, particularmente externo, sendo considerado um dos maiores líderes ambientalistas de sua geração. No entanto, Chico Mendes desafiou em sua região pessoas ligadas ao avanço da tomada de terras indígenas, particularmente grileiros e latifundiários conectados ao agronegócio e ao extrativismo de madeira e, por isso, acabou sendo assassinado no fim dos anos 1980. Seu legado de luta e sua memória histórica ainda hoje são fundamentais no ativismo de preservação da Amazônia e de lutas sociais dos seringueiros.

b) O texto aborda uma forma de trabalho de semiescravidão na exploração da borracha da Amazônia, conhecida como aviamento ou barracão, na qual a pessoa é obrigada a trabalhar em altíssimas cargas de horário sem remuneração adequada e regular (muitas vezes trocando o látex extraído por produtos de bens de consumo), sem a assinatura de garantias trabalhistas e sem qualquer bem-estar social, sendo confinadas em lugares insalubres, trancafiadas por patrões que abusam da violência física e psicológica. O texto demonstra que a exploração do trabalho semiescravo está vinculada às próprias condições de vida dos seringueiros, muitas vezes analfabetos, endividados e dependentes de seu patronado.
No século XIX, pode-se destacar outras duas formas de exploração de trabalho no Brasil: a escravidão negra de origem africana e a exploração de trabalhos de imigrantes europeus no sistema de parceria.
Fruto em grande parte do aumento do tráfico de escravizados transatlântico entre África e Brasil no século XIX, a escravidão negra acentuou-se nessa época em terras brasileiras, abastecendo de mão de obra a crescente produção cafeeira, tanto no Vale do Paraíba como na região do Oeste Paulista. Nesses casos, a pessoa escravizada não dispunha de nenhuma liberdade, podendo legalmente ser comprada e vendida, além de sofrer constantes maus-tratos e abusos por parte de seus donos. 
Também havia no século XIX a escravidão negra em áreas urbanas, particularmente em atividades domésticas. Nesse caso urbano, houve um constante uso do trabalho de escravizados de ganho, no qual a pessoa escravizada tinha o direito, por exemplo, de ter um dia de folga, na qual ela trabalhava por conta própria para arrecadar recursos e comprar futuramente sua carta de alforria.
No sistema de parceria, o imigrante era trazido da Europa pelos próprios aristocratas para trabalharem em suas fazendas de café como mão de obra livre e assalariada. Pelo contrato de parceria, o imigrante deveria entregar parte da produção como forma de pagamento do uso da terra e das instalações utilizadas. O pioneiro desse processo foi o senador Nicolau Vergueiro, que trouxe levas de imigrantes para trabalhar como colonos parceiros na fazenda Ibicaba, interior de São Paulo. Na prática, o sistema de parceira gerava um crescente endividamento dos colonos, que tinham que pagar pelas despesas da viagem de vinda ao Brasil e pelas dívidas contraídas nas compras do armazém da fazenda, que cobrava altos preços por alimentos e utensílios e pelo cultivo inicial da terra. Com isso, os trabalhadores imigrantes praticamente trabalhavam apenas para pagar dívidas. Tal situação gerou diversas revoltas entre os imigrantes, como a da própria fazenda Ibicaba, em 1857. 

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