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Para responder às questões de 07 a 10, leia a crônica “O tapete persa” de Fernando Sabino.
Comprou o tapete, colocou-o no imenso living e ficou olhando. Mal se podia pisar com um pouco mais de firmeza, o dono do tapete logo perdia o fio da conversa. Se por acaso um amigo acendia um cigarro, ah, isso não, meu velho, tenha santa paciência, mas vá fumar ali fora, na varanda, isso aqui é tapete pra muito luxo, me custou os tubos, da Pérsia ali no duro, se me cai uma brasinha no chão eu lhe mando a mão na cara, desculpe a franqueza, mas comigo é assim, mais vale prevenir que remediar.
A mulher já nem podia receber em casa uma visita de cerimônia, porque logo de entrada ele ia avisando:
— Vai limpar o pezinho aí no capacho, não vai? Tapete novo ali na sala, coisa pra muito luxo, a senhora compreende... Preço de um automóvel!
Quem pelo preço de um tapete compra um automóvel hoje em dia? Era o que ele pensava, quando se meteu no seu com toda a família e foi passar o verão em Petrópolis. Recomendara à empregada cuidados especiais com o tapete. [...]
Um belo dia a empregada descobriu, com pavor, que o tapete apresentava aqui e ali pequenas manchas de mofo. Abriu todo o apartamento, mas, não satisfeita, resolveu dependurar o tapete na amurada da varanda para que apanhasse sol.
Ora, acontecia morar no apartamento de baixo um americano que invariavelmente chegava bêbado todas as noites e ainda bebia mais um pouco antes de dormir, mais um pouco ao levantar-se. Naquele dia, tendo o tapete obstruído por completo sua janela, cuidou ao acordar que ainda era noite e voltou para a cama. Afinal, cansado de dormir, acendeu a luz e olhou o relógio: duas horas. Não poderia estar tão bêbado assim — convenhamos que às duas horas da tarde o dia já deveria ter pelo menos começado a clarear. Ou passara o dia todo dormindo e seriam duas horas da noite?
Avançou para a janela e deu de cara com o tapete. Vendo que não conseguia olhar para fora, voltou-se, resignado, sem buscar uma explicação. Buscou antes uma faca e meteu-a no tapete como no ventre de um peixe, abrindo-o de alto a baixo. Depois enfiou a cabeça pelo rombo para ver se lá fora era noite ou dia. Infelizmente era dia. Não se conformando, puxou com violência o tapete e quando afinal acabou de recolhê-lo, deixou que tombasse no espaço e fosse cair lá embaixo, sobre as obras de um edifício em princípio de construção. [...]
A empregada apareceu desvairada e, ao ver o tapete no chão enlameado, botou as mãos na cabeça e a boca no mundo:
— Nossa Senhora, meu patrãozinho me mata!
No dia seguinte era o patrãozinho que, descendo de Petrópolis, ia ao apartamento de baixo disposto a matar primeiro o americano. No que disse yes, foi-lhe metendo o braço.
— Just a moment! Just a moment! — berrava o americano, se defendendo. — No fala portuguese! Must be some mistake!
— Misteique é a mãe — dizia o dono do tapete, enfurecido. Não satisfeito, pôs-se a quebrar coisas no apartamento do outro. Pouco havia que quebrar, além de uma garrafa de “Four Roses” já vazia.
Afinal, mais calmo, preveniu:
— No fala portuguese mas pagar tapete, tá bem? Olha aqui, ô gringo, to pay um tápet, morou?
— Let’s have a drink — propôs o americano.
(Fernando Sabino et al. Elenco de cronistas modernos, 1988.)
Uma característica recorrente no gênero crônica que está presente no texto de Fernando Sabino é:
a crítica política.
o registro coloquial.
o caráter metalinguístico.
a sintaxe rebuscada.
o tom moralizante.
A crônica possui, como uma de suas mais importantes características, o modo de escrita coloquial, informal e espontâneo. Tal característica se faz nítida em expressões como “me custou os tubos” e “gringo”.
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