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Para responder às questões de 06 a 09, leia o poema “Aproximação do terror”, de Murilo Mendes, escrito entre 1943 e 1945, mas publicado originalmente em 1947 no livro Poesia Liberdade.
1
Dos braços do poeta
Pende a ópera do mundo
(Tempo, cirurgião do mundo): —
O abismo bate palmas,
A noite aponta o revólver.
Ouço a multidão, o coro do universo,
O trote das estrelas
Já nos subúrbios da caneta:
As rosas perderam a fala.
Entrega-se a morte a domicílio.
Dos braços…
Pende a ópera do mundo.
2
Tenho que dar de comer ao poema.
Novas perturbações me alimentam:
Nem tudo o que penso agora
Posso dizer por papel e tinta.
O poeta já nasce conscrito,
Atento às fascinantes inclinações do erro,
Já nasce com as cicatrizes da liberdade.
O ouvido soprando sua trompa
Percebe a galope
A marcha do número 666.
a .
O tremor
E os jasmins da palavra “jamais”.
3
Dos telhados abstratos
Vejo os limites da pele,
Assisto crescerem os cabelos dos minutos
No instante da eternidade.
Vejo ouvindo, ouço vendo.
Considero as tatuagens dos peixes,
O astro monossecular.
Os rochedos colocam-se máscaras contra
[pássaros asfixiantes.
A grande Babilônia ergue o corpo de dólares.
Ruído surdo, o tempo oco a tombar…
A espiral das gerações cresce.
(Murilo Mendes. Antologia poética, 2014.)
palpar: apalpar.
Quimera: monstro mitológico com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente.
Considerando a época de produção do poema (Estado Novo), remeteria de modo mais explícito ao contexto de censura o seguinte trecho:
“Tenho que dar de comer ao poema.” (4ª estrofe)
“Assisto crescerem os cabelos dos minutos / No instante da eternidade.” (7ª estrofe)
“Os rochedos colocam-se máscaras contra pássaros asfixiantes.” (8ª estrofe)
"O abismo bate palmas, / A noite aponta o revólver.” (2ª estrofe)
“Nem tudo o que penso agora / Posso dizer por papel e tinta.” (4ª estrofe)
A censura promovida pelo Estado Novo surgiu como forma de legitimar o regime de Getúlio Vargas por meio da criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) em dezembro de 1939. Inserido no contexto da segunda geração modernista, Murilo Mendes publica a obra Poesia e Liberdade em 1947, porém, o enunciado da questão já deixa claro para o vestibulando que o poema “Aproximação do terror” foi redigido entre 1943 e 1945. Assim, a única alternativa que contém versos com referência clara à censura é a E: “Nem tudo o que penso agora / Posso dizer por papel e tinta”.
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