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Para responder às questões de 02 a 05, leia a crônica “Dever de casa”, de Otto Lara Resende, publicada originalmente em 13.09.1992.
Um fiapo de gente e um feixe de problemas. Agora é uma perguntação que não tem mais fim. Papai, o plural de segunda-feira? Tira os óculos, para de ler a revista. Daqui a pouco é hora do telejornal. Dia cansativo, mas pai é pai. Segunda-feira, segunda-feira. Murmurinha, como se procurasse na memória algo que não sabe o que é. Segunda-feira, pai. Ah, sim. O plural dos nomes compostos. Ao menos isso não terá mudado.
Mudam tudo neste país. Depois querem ter jurisprudência. Ainda hoje andou lendo um acórdão. Ementa malfeita. Segunda-feira no plural. Não tem mais o que inventar. Segundas- feiras. Variam os dois elementos. Fácil, óbvio. Entendeu?
Nem tinha retomado a leitura e lá vem outra perguntinha. Quarta-feira é abstrato ou concreto? Essa, agora. Primeiro vamos saber se é mesmo substantivo. Nenhuma dúvida. É substantivo. Abstrato?
Concreto. A professora disse que é concreto. Pai é pai. Põe tudo de lado e sai sem bater a porta. Concreto, está lá no Celso Cunha, é o substantivo que designa um ser propriamente dito. Nomes de pessoas, de lugares, de instituições. Etc. Quarta-feira. Vamos raciocinar. Nome de um dia. Abstrato designa noção, ação, estado e qualidade. Desde que considerados como seres. Quarta-feira é um ser? Se é um dia, é um ser. Mas concreto? Abstrato. Deve ser abstrato.
Um dia de matar, o trânsito engarrafado. A dorzinha de cabeça já se instalou. Quarta-feira, papai. Afinal? Outro dia era o aliás. Até que teve sua graça. Que é aliás? Bom, como categoria gramatical, me parece que. Pausa. Mudaram a nomenclatura gramatical toda. […] Aliás, advérbio não é. Ou melhor, é controvertido. Vem do latim. Quer dizer quer dizer, como disse o outro. Será advérbio?
Esses meninos de hoje, francamente. Gramática ninguém estuda mais. A língua andrajosa, um monte de solecismos. Mas quarta-feira é substantivo abstrato? Concreto, disse a professora. Ora, pinoia. Está começando o telejornal. Mais um fantasma. Mandado de segurança. Mandado e não mandato. Preste atenção, meu filho. Aliás, só faltava essa. […] Fantasma é concreto? Eta Brasil complicado! Aliás, hoje
é quarta-feira. Abstrata? Uma vergonha!
(Otto Lara Resende. Bom dia para nascer, 2011.)
O verbo em negrito deve sua flexão ao termo sublinhado no seguinte trecho:
“Mudam tudo neste país.” (2º parágrafo)
“Até que teve sua graça.” (5º parágrafo)
“Gramática ninguém estuda mais.” (6º parágrafo)
“Variam os dois elementos.” (2º parágrafo)
“Abstrato designa noção, ação, estado e qualidade.” (4º parágrafo)
O sujeito do verbo “variar” é “os dois elementos”, por isso o verbo está flexionado no plural: “Variam os dois elementos”, ou seja, os dois elementos variam.
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