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Pede o desejo, dama, que vos veja,
Não entende o que pede, está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado¹,
Que quem o tem não sabe o que deseja.
Não há cousa a qual natural² seja
Que não queira perpétuo o seu estado,
Não quer logo³ o desejo o desejado,
Por que não falte nunca onde sobeja⁴.
Mas este puro afeito⁵ em mim se dana,
Que como⁶ a grave⁷ pedra tem por arte
O centro desejar da natureza⁸.
Assim o pensamento (pela parte
Que vai tomar de mim, terrestre, humana)
Foi, senhora, pedir esta baixeza.
(Camões. 20 sonetos, 2018.)
¹ fino, delgado: refinado, espiritual.
² natural: pertencente à natureza, da natureza.
³ logo: dessa forma.
⁴ sobeja: sobra.
⁵ afeito: afeto, sentimento.
⁶ que como: da mesma forma que.
⁷ grave: pesada.
⁸ centro da natureza: chão.
Retoma um termo mencionado anteriormente no soneto a palavra sublinhada em:
“Que não queira perpétuo o seu estado,” (2ª estrofe)
“O centro desejar da natureza.” (3ª estrofe)
“Que não queira perpétuo o seu estado,” (2ª estrofe)
“Pede o desejo, dama, que vos veja,” (1ª estrofe)
“Que quem o tem não sabe o que deseja.” (1ª estrofe)
No trecho “Não há cousa a qual natural seja / Que não queira perpétuo o seu estado”, o vocábulo “que” é um pronome relativo que retoma “cousa”.
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