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Pede o desejo, dama, que vos veja,
Não entende o que pede, está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado¹,
Que quem o tem não sabe o que deseja.
Não há cousa a qual natural² seja
Que não queira perpétuo o seu estado,
Não quer logo³ o desejo o desejado,
Por que não falte nunca onde sobeja⁴.
Mas este puro afeito⁵ em mim se dana,
Que como⁶ a grave⁷ pedra tem por arte
O centro desejar da natureza⁸.
Assim o pensamento (pela parte
Que vai tomar de mim, terrestre, humana)
Foi, senhora, pedir esta baixeza.
(Camões. 20 sonetos, 2018.)
¹ fino, delgado: refinado, espiritual.
² natural: pertencente à natureza, da natureza.
³ logo: dessa forma.
⁴ sobeja: sobra.
⁵ afeito: afeto, sentimento.
⁶ que como: da mesma forma que.
⁷ grave: pesada.
⁸ centro da natureza: chão.
Considerando o contexto histórico e cultural de produção do soneto, o verso “É este amor tão fino e tão delgado,” (1ª estrofe) alude
à teoria de Darwin.
à filosofia de Platão.
à teoria de Newton.
à filosofia iluminista.
à filosofia de Rousseau.
O soneto tematiza a oposição entre a pureza do sentimento amoroso e o desejo carnal de possuí-lo, abordagem frequente na obra camoniana. Nesse sentido, é possível aproximar a poesia do ideal de “amor platônico”, tendo em vista que este corresponde à idealização do sentimento, o qual existe apenas de forma metafísica, nunca podendo ser, de fato, vivido.
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