Questão 47 - Prova V1 - Fuvest 2026

Gabarito

Questão 47

Objetiva
47

iii. Busca

Pelos campos fora
Caminhava sempre
Como se buscasse
Uma presença ausente

“Onde estás tu, morte?
Não posso te ver:
Neste dia de Maio
Com rosas e trigo
É como se tu não
Vivesses comigo
[...]
É verdade que passas
Pela cidade às vezes
Nos caixões de chumbo:

Mas viro o meu rosto
Pois não te compreendo
És um pesadelo
Uma coisa inventada
Que o vento desmente
Com suas mãos frescas
E a luz logo apaga”
[...]

Sophia de Mello Breyner Andresen. O Cristo cigano

     É tão tenaz o desvio que a esquivança encobridora ante a morte exerce sobre a cotidianidade que, no ser-um-com-o-outro, seus ‘próximos’ ainda se empenham com frequência precisamente junto ao ‘moribundo’ para o persuadir de que escapa da morte e retorna em seguida à tranquila cotidianidade do mundo de suas ocupações. Tal ‘preocupação-com-o-outro’ pensa ‘consolar’ dessa maneira o ‘moribundo’. Ela quer devolvê-lo à existência, ajudando-o a encobrir ainda mais completamente sua possibilidade de ser mais própria e irremetente. A gente se ocupa dessa maneira de uma constante tranquilização sobre a morte. Mas, no fundo, ela vale tanto para o ‘moribundo’ quanto para ‘os que consolam’. E mesmo no caso do deixar de viver, a publicidade ainda não deve ser perturbada, nem inquietada pelo acontecimento na sua ocupada despreocupação. Pois não raro se vê na morte dos outros uma inconveniência social, quando não mesmo uma falta de tato, cuja publicidade deve ser poupada.

Martin Heidegger. Ser e Tempo, §51.

A escritora Sophia de Mello Breyner Andresen e o filósofo Martin Heidegger descrevem, por meio de recursos expositivos bem diferentes, uma mesma atitude geral comumente assumida por uma pessoa ante o desvelamento de sua própria mortalidade a partir da constatação da morte ou do adoecimento mortal de uma outra pessoa. Qual alternativa melhor descreve essa atitude?

Alternativas

  1. A

    O enfrentamento heroico do absurdo existencial contido na morte.

  2. B

    O respeito silencioso às tradições culturais voltadas ao morrer.

  3. C

    A empatia antecipadora com os mortos, participando de sua dissolução existencial.

  4. D

    A fuga acalmadora, que encobre o sentido existencial da mortalidade.

  5. E

    A perda da sensibilidade, de modo a nem mesmo poder perceber a ocorrência da morte.

Gabarito:
    D

Tanto o excerto de O Cristo cigano quanto o trecho de Martin Heidegger descrevem o comportamento de fuga diante da morte. Essa fuga busca nos acalmar diante do destino final e inevitável de nossa existência. Por isso, diante dos caixões que passam, o eu-lírico do poema diz: 

“Mas viro o meu rosto / Pois não te compreendo / És um pesadelo / Uma coisa inventada” 

Ao passo que no texto de Heidegger lê-se: 

“A gente se ocupa dessa maneira de uma constante tranquilização sobre a morte.” 

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