Questão 15 - Prova V1 - Fuvest 2026

Gabarito

Questão 15

Objetiva
15

     A uberização nomeia um novo tipo de gestão e controle da força de trabalho. Resultando das formas contemporâneas de eliminação de direitos, transferência de riscos e custos para os trabalhadores e novos arranjos produtivos, ela em alguma medida sintetiza processos em curso há décadas, ao mesmo tempo em que se apresenta como tendência para o futuro do trabalho. O tema ganha visibilidade com a formação de enormes contingentes de trabalhadores controlados por empresas que operam por meio de plataformas digitais. O desafio contemporâneo frente a esse novo tipo de organização envolve elementos complexos e armadilhas teórico-políticas. Reside em compreender as plataformas digitais como um novo meio poderoso pelo qual as relações de trabalho vêm se reestruturando, sem, entretanto, incorrer em um determinismo tecnológico que mistifique os processos sociais que envolvem décadas de flexibilização e transformação no trabalho, e que se materializam nas plataformas digitais, embora de forma obscura. Com base nessa perspectiva, o desafio também reside na compreensão de uma tendência que precede e ultrapassa as plataformas digitais, relacionada ao elemento central da uberização, qual seja, a consolidação e gerenciamento de multidões de trabalhadores como trabalhadores just-in-time. Essa condição do trabalho envolve um novo tipo generalizável de remuneração por peça que conserva sua centralidade nas formas de exploração capitalistas, mas atualiza seus elementos, demandando a compreensão das permanências, transformações e tendências que se desenham no presente ou como futuro possível e provável do trabalho. 

ABÍLIO, L. C. et al. “Uberização e plataformização do trabalho no Brasil:
conceitos, processos e formas”. Sociologias, v. 23, n. 57, 2021.

Segundo o texto, a uberização é um processo que

Alternativas

  1. A

    surgiu com o uso das plataformas digitais como elemento mediador que estimulou relações de trabalho cooperativo entre multidões de desempregados.

  2. B

    intensificou a informalidade e a flexibilidade nas relações de trabalho por conta dos recursos técnicos das plataformas, que acirraram a exploração capitalista.

  3. C

    libertou o trabalhador do atraso das leis trabalhistas, que impediam o empreendedor de construir novos arranjos produtivos que aumentassem sua renda.

  4. D

    partiu da regulação das plataformas digitais para instituir uma nova forma de gerenciamento da força de trabalho baseada na eliminação de direitos sociais.

  5. E

    acentuou a exploração capitalista, já que o aumento da renda do trabalhador não foi compatível com os custos das atividades profissionais realizadas por meio de aplicativos.

Gabarito:
    B

O processo de “uberização” tem como uma de suas principais características (destacada pelo excerto apresentado no enunciado) a relativização da legislação trabalhista, processo que também é conhecido como “flexibilização” das relações de trabalho e que gera um aumento no volume de trabalho informal.

Com o desenvolvimento do chamado “capitalismo de plataforma”, aplicativos pertencentes a grandes empresas ofertam uma base de usuários (consumidores) que se conectam, via aplicativo, ao prestador de serviço (definido, a partir de um tratamento linguístico de esvaziamento do potencial reivindicatório, como “empreendedor”, tema que já foi abordado em uma questão da primeira fase da Fuvest de 2023). Dessa forma, o “empreendedor” seria o único responsável pela geração de sua renda, não recaindo sobre o aplicativo de plataforma nenhum ônus trabalhista. Tal relação é, segundo o texto, evidentemente assimétrica, pois oculta a dependência do trabalhador uberizado (o “empreendedor” na linguagem uberizada) em relação ao aplicativo.

Como não tem condições de oferecer seu serviço sem estar cadastrado no aplicativo, o trabalhador acaba por se submeter às condições impostas por essas empresas, sem ter o respaldo da legislação trabalhista para reivindicar direitos ou compensações ante situações exploratórias. Tal situação, como afirma a alternativa “b”, resulta numa condição de maior fragilidade, submissão e exploração do trabalhador informalizado, convergindo para o que foi apresentado no excerto.

Considerando que o comando da questão demanda que a alternativa correta deve estar contida no texto: 

A alternativa “a”, ao abordar um suposto fortalecimento do trabalhador em um ambiente cooperativo gerado pelos aplicativos, entra em contradição com as informações apresentadas pelo excerto. 

A alternativa “c”, ao afirmar que a uberização “libertou o trabalhador do atraso das leis trabalhistas”, entra em contradição com a situação de fragilização do trabalhador colocado na informalidade, como foi apresentado pelo excerto. 

A alternativa “d”, ao afirmar que a uberização parte de uma “regulação das plataformas digitais”, entra em contradição como o processo de flexibilização das relações trabalhistas apresentado no excerto. 

A alternativa “e”, ao afirmar que a exploração capitalista sobre o trabalhador aumenta devido à incompatibilidade entre os custos e a renda das atividades profissionais uberizadas, estabelece uma relação de causa e consequência que não está presente no excerto. 

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