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Para responder às questões de 08 a 14, leia o início da crônica “Assepsia vocabular”, do escritor Humberto Werneck, publicada originalmente em 06.05.2012.
1 Solange, a prima que adora falar difícil, vai ficar muito contrariada se você disser que ela é uma chata.
Talvez o seja mesmo, admita, sempre impecável na colocação dos pronomes — mas está acima de suas forças tolerar que para qualificá-la se lance mão, ainda que no feminino, de substantivo tão vulgar, assimilando-a ao inseto anopluro da família dos ftiriídeos que tem por habitat preferencial o púbis humano; sim, ele mesmo, o carrapatinho infernal também conhecido como carango, ladro, piolho-das-virilhas, piolho-do-púbis ou piolho-ladro e, entre os cientistas, como Pthirus pubis.
A Solange, portanto, em seu chatice solanjal, prefere que a chamem de maçante ou maçadora, como se dizia no tempo de seus pais. Quando também se disse, aliás, que fulano ou fulana era “pau”, mas isto é a prima não quer que se lhe aplique.
Na casa onde a Solange se criou, já faz tempo, a palavra “chato” fazia companhia aos mais nefandos palavrões na lista de coisas que não se podiam dizer. E quem zelava pela assepsia vocabular, censor implacável, era o tio Américo. Mesmo a Solange confirmou que o pai, serventuário da Justiça, extrapolava na macaqueação da fauna e do jargão forense, que tanto admirava, e até ia além, cravejando sua fala ribombante com profusão de pronomes descabidos.
5 Eu estava lá, meninote, no dia em que um dos primos lhe pediu um par de velhas abotoaduras, pedido que o tio Américo, na cabeça da mesa, indeferiu nestes termos:
— Não lhas dou porque já não lhas tenho, e mesmo que ainda lhas teve, não lhas daria!
Ousasse alguém, na sua, presença dizer “esculhambar”, palavra que aos ouvidos do pai da Solange remetia a recônditos berloques de anatomia masculina. [...] Já o avô Manuel, natural dos Açores, ao se encaminhar para o banheiro [...], costumava anunciar, sem que lhe houvessem perguntado, que estava indo “dar de corpo”, como se diz em sua terra natal. Em certas regiões do Sul do Brasil, aprenda depois, a mesma operação se chama — do ponto de vista das calças, imagino — “ir aos pés”.
(Humberto Werneck. Sonhos rebobinados , 2014.)
Depreende-se do quarto parágrafo que a própria Solange considerava seu pai
autoritário.
hostil.
irônico.
pedante.
enfadonho.
No quarto parágrafo, afirma-se que Solange reconhecia que o pai “extrapolava na macaqueação da fauna e do jargão forense”, “cravejando sua fala ribombante com profusão de pronomes descabidos”. Essas marcas linguísticas caracterizam um uso exibicionista e excessivamente técnico da linguagem, traço típico da pedanteria (imodéstia), sem indicar autoritarismo, hostilidade, ironia ou enfado.
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