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Para responder às questões de 01 a 05, leia o poema “Uma criatura”, de Machado de Assis, publicado originalmente em 1880.
Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão¹ da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo.
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso²,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme³;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois essa criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as suas forças dobra.
Ama de igual amor o poluto⁴ e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte: eu direi que é a Vida.
(Machado de Assis. Poesias completas, 2024.)
sofreguidão: voracidade.
mavioso: compassivo.
inerme: indefeso.
poluto: impuro.
Diferentemente dos processos de formação vocabular que consistem em acréscimo ou subtração de afixos a um radical, um vocábulo também pode ser formado quando passa de uma classe gramatical a outra sem alterações formais. Tal processo é denominado conversão. Verifica-se uma palavra formada por conversão no seguinte verso:
“E sorrindo obedece ao divino estatuto.” (8ª estrofe)
“E é nesse destruir que as suas forças dobra.” (7ª estrofe)
“E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,” (2ª estrofe)
“Que a si mesma devora os membros e as entranhas,” (1ª estrofe)
“Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo” (6ª estrofe)
No verso “E é nesse destruir que as suas forças dobra.”, presente na 7ª estrofe, o verbo “destruir” deixa de indicar uma ação conjugada e passa a nomear um conceito, funcionando como um substantivo. Isso ocorre porque o pronome demonstrativo “nesse” (fusão de “em” + “esse”) funciona como um determinante que substantiva o verbo. Portanto, “nesse destruir” tem o mesmo sentido de “nesse ato de destruição”.
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