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Considere os dois fragmentos a seguir:
O fundamento psicológico sobre o qual se eleva o tipo das individualidades da cidade grande é a intensificação da vida nervosa, que resulta da mudança rápida e ininterrupta de impressões [...]. Talvez não haja nenhum fenômeno tão característico da cidade grande como o caráter blasé. [...] A essência do caráter blasé é o embotamento frente à distinção das coisas [...]. Em parte por conta dessa situação psicológica, em parte em virtude do direito à desconfiança que temos perante os elementos da vida na cidade grande, que passam por nós em um contato fugaz, somos coagidos a uma reserva, em virtude da qual mal conhecemos os vizinhos que temos por muitos anos [...]. Ao mesmo tempo, essa reserva garante ao indivíduo uma espécie [...] de liberdade pessoal.
Simmel, Georg. (2005). As grandes cidades e a vida do espírito. Mana, Trad. Leopoldo Waizbort. Adaptado.
As luzes da cidade se acendiam, as cortinas de aço das portas desciam com barulho e os caixeiros, os empregados que passavam o dia sorridentes ou abstratos, por trás dos balcões [...], se transformavam em homens misteriosos, individuais, que metiam um paletó, tinham uma casa, uma rua e iam comer o seu jantar, dormir o seu sono, trancar a sua porta. [...] Todos ali tinham a sua vida isolada, sua vida particular.
E, naquela hora, cortavam as amarras, cada um procurando o seu mundo pessoal, a sua pequenina ilha.
Rachel de Queiroz. Caminho de Pedras. Adaptado.
No primeiro trecho, publicado originalmente em 1903, o sociólogo Georg Simmel procurou condensar as características fundamentais da vida psíquica nas grandes cidades. Já no segundo, com que Rachel de Queiroz inicia o capítulo 7 de Caminho de Pedras, vemos como o protagonista Roberto percebe sua cidade a bordo de um bonde. Lendo-os em conjunto, é possível afirmar:
As observações de Roberto contrariam a análise de Simmel. O “sorriso” dos empregados contradiz o diagnóstico de “embotamento” e “reserva” para com os outros.
A vida “isolada” e “particular” descrita por Roberto, com que todos “cortavam as amarras”, é uma expressão da mesma reserva que Simmel argumenta produzir alguma liberdade.
Ainda que haja semelhanças nas leituras, o modo “abstrato” com que os empregados passavam seus dias não é um aspecto psíquico das grandes cidades, mas da necessária desconfiança em atividades comerciais.
A vida doméstica e particular sobre a qual Roberto reflete contradiz o diagnóstico de “intensificação da vida nervosa”, sugerindo uma rotina de impressões repetidas e imutáveis.
O retrato da cidade em Caminho de Pedras confirma a análise de Simmel ao afirmar que a individualidade e o “embotamento frente à distinção das coisas” são expressos no espaço privado dos lares dos empregados.
Os dois textos mostram que a vida nas grandes cidades leva as pessoas a adotarem atitudes reservadas, buscando no isolamento da vida privada um espaço de liberdade pessoal.
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