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Questão 30 - Unicamp - T e W - Unicamp 2026
Gabarito
Geral
Questão ativa
Já visualizadas
Não visualizadas
Resolução pendente
- ANL
Questão anulada
- S/A
Sem alternativas
O sineiro era um preto velho e doido. Não fazia mais que tocar o sino da capela, para a missa, aos domingos. O resto do tempo vivia calado ou resmungando. Ninguém lhe falava, embora fosse manso. [...] Com a razão, perdera a convivência dos mais. Vivia entregue aos pensamentos solitários, mergulhado na inconsciência e na solidão. A moça representava aos olhos dele alguma coisa mais do que uma simples criatura, era a sociedade humana, e uma sombra de sombra da consciência antiga.
(ASSIS, M. de. Casa Velha. Apresentação e notas de Paulo Franchetti. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, p. 85-86, 2023.)
No enredo de Casa Velha, é possível afirmar que a cena em que aparece a figura do sineiro cumpre o papel de
Alternativas
- A
mostrar a solidariedade de classe desenvolvida por Lalau que, sendo uma agregada, identifica seus interesses com os do velho sineiro.
- B
exibir o caráter caridoso de Dona Antônia, que mantém o escravizado sob seus cuidados mesmo após deixar de ser útil como trabalhador.
- C
expor a Dona Antônia o sentimento existente entre Lalau e seu filho, enquanto ele observa a compaixão da moça pelo sineiro.
- D
sugerir a complexidade da organização social característica da Casa Velha, na qual se via representada toda a sociedade humana.
Gabarito:D
“Casa velha”, de Machado de Assis, é uma representação da sociedade brasileira da época do período Regencial. Dona Antônia Quintanilha e o filho (Félix) representam a elite, já Cláudia (agregada) e o sineiro personificam as classes sociais mais pobres. O autor demonstra que a elite, não interessa o sistema político, está sempre no poder.
A questão solicita a identificação do papel da cena do sineiro no enredo. O gabarito oficial aponta, para a questão 64 da prova X, a Alternativa C (expor a Dona Antônia o sentimento existente entre Lalau e seu filho, enquanto ele observa a compaixão da moça pelo sineiro) como correta. A partir de nossas análises e discussões, questionamos a validade dessa assertiva, uma vez que ela parece apresentar inconsistência factual em relação à narrativa, o que nos levou, respeitosamente, a considerá-la inadequada como resposta definitiva. Primeiramente, a construção textual da alternativa leva o candidato a compreender que o pronome "ele" retoma o referente "seu filho", o que sugere que a personagem Félix observaria, em dado momento, a interação entre a moça e Gira.
Além disso, a premissa de que a cena entre Lalau e o sineiro (excerto do Capítulo V, utilizado como texto-base da questão) serve para expor a Dona Antônia o sentimento entre seu filho e a agregada parece imprecisa. O conhecimento (ou, no mínimo, a desconfiança) de Dona Antônia em relação ao afeto entre Félix e Lalau é preexistente à cena em questão, sendo manifestado em diálogos e ações anteriores, como sua tentativa de afastar os jovens, sugerindo ao narrador que levasse Félix à Europa (informação comentada por Félix ao narrador no Capítulo IV). A cena do sineiro é, no máximo, uma confirmação visual para Dona Antônia, e não o elemento expositor do fato.
O trecho fornecido na questão ("A moça representava aos olhos dele alguma coisa mais do que uma simples criatura, era a sociedade humana, e uma sombra de sombra da consciência antiga") enfatiza o papel social do sineiro Gira (o preto velho, a memória, o excluído) e a identificação de Lalau (a agregada/marginalizada) com esses valores. Em suma, o excerto parece realçar as tensões e a estrutura social da Casa Velha, e não a intriga amorosa, como sugere a alternativa apresentada como correta.
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