Questão 22 - Unicamp - T e W - Unicamp 2026

Gabarito

Questão 22

Objetiva
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A rua é nóix! Sempre com letra minúscula, porque não é o Nós da totalidade, uma vez que não sabemos exatamente quem ou quantos somos, quem faz parte ou não, quem está dentro ou fora. Mas, se pegar para um, vai pegar pra geral. O nóix é sempre mais que um. Mesmo sozinho, na missão, existe algo para além da presença física do eu e do outro. Assumindo nossas ancestralidades, convivemos com os espíritos daqueles que já se foram. O nóix opera pela lógica dos bondes de galera, do lado A ou lado B. Quem é amigo fecha com a gente, quem é alemão rala. Porque o fechamento é o fundamento ético das ruas. Recebe-se quem chega de boa, na paz, mas, se vacila, vai. Com i e x, o nóix demarca um sotaque, um registro local, um lugar, o Pretuguês de Lélia Gonzalez. Desobedecendo à instituída norma culta, o nóix – escrito ou falado – revela sua potência operando à margem da obediência à linguagem fonética dominante. O nóix é a potência da contaminação diferencial das diversidades de um povo em tempos e espaços múltiplos, que se repete numa atmosfera espectral que ultrapassa a lógica temporal predominante.

(Adaptado de MORAES, M. J. D. A rua é nóix, Revista Cult, ed. 271, 1 jul. de 2021.)

A partir das análises de Lélia Gonzalez – intelectual, professora universitária, mulher, negra e feminista – conseguimos compreender quão extensa é a introdução de palavras e termos de origens africanas na nossa língua. O Pretuguês é, então, parte da africanização da língua portuguesa brasileira. As pessoas negras escravizadas resistiam de inúmeras formas, lutando, fugindo, se organizando, mas também através da fala, no jeito de agir e na forma de viver que se enraizou na maneira de ser de todo o Brasil. E isso vem da ancestralidade, é o passar do conhecimento através do tempo e das relações de respeito pelo que veio antes, através do cântico antigo, da reza falada, da contação de história que os entrelaços linguísticos vão formando. Muitos vocábulos estão tão acomodados no nosso idioma que sequer paramos para pensar sua origem e seu significado. Mas são de origem africana, como dengo, quitanda, cafuné, muvuca, caçula e axé.

(Adaptado de texto publicado no perfil de Instagram de Mari Canuto em 28/09/2022. Disponível em: https://www.instagram.com/mari_canuto/reel/CjD8ALkPw9o/. Acesso em 30/07/2025.) 

Considerando esse texto, a menção ao “Pretuguês de Lélia Gonzalez” no artigo de Marcelo José Derzi Moraes, apresentado na questão anterior, ocorre pelo fato de nóix ser

Alternativas

  1. A

    um vocábulo introduzido no Brasil pelos africanos escravizados, da mesma forma que outras palavras de origem africana acomodadas na língua.

  2. B

    uma expressão identitária que serve para demarcar os negros brasileiros e segregá-los dos demais grupos étnico-raciais que compõem o país.

  3. C

    uma marca linguística associada a um grupo cujos ancestrais reúnem aqueles que contribuíram para a africanização do português brasileiro.

  4. D

    um traço dialetal característico dos sotaques urbanos brasileiros que são fortemente marcados pela presença de palavras africanas.

Gabarito:
    C

A resolução da questão exige a retomada do texto-base para as questões 55 e 56, no qual o emprego de uma palavra específica (“nóix”) é associada a um grupo de indivíduos específicos: aqueles que assumem sua ancestralidade.
Além desse texto, era preciso considerar ainda um outro, que acompanha esta questão. Nele, o autor comenta sobre a contribuição de Lélia Gonzalez quanto à presença de elementos de línguas africanas no português usado no Brasil, o que a levou a cunhar o termo “pretuguês”. Ou seja, ambos os textos apontam para a presença de elementos ancestrais, especificamente africanos, na fala brasileira.
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