Redação - 2ª Fase - Dia 1 - Unicamp 2026

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Redação

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Proposta 1

Muitos adolescentes têm sido atraídos por comunidades em redes sociais conhecidas como “machosfera” ou “manosfera”, nas quais circulam discursos de ódio e incita-se a violência contra mulheres. Você é um jovem jornalista que se propôs a participar de uma dessas comunidades com o objetivo de reunir informações sobre aquele ambiente virtual perverso e produzir uma série de reportagens a ser publicada em um jornal da mídia impressa. Concluída a pesquisa, você deu início à série escrevendo seu primeiro texto: um depoimento pessoal. Nele, você: a) narra um episódio violento que testemunhou nessa comunidade virtual e b) argumenta no sentido de combater discursos de ódio, que circulam no ciberespaço, dirigidos às mulheres. Para cumprir essas tarefas, você deve, obrigatoriamente, apropriar-se de elementos da coletânea a seguir, demonstrando leitura crítica dela na elaboração de seu texto.

1. A comoção causada pela série Adolescência, da Netflix, é sintoma de uma revelação inconveniente: a de que o perigo está  dentro de casa. No enredo, o adolescente Jamie Miller (Owen Cooper), 13 anos, é autor de um homicídio. Ele esfaqueou Katie,  13 anos, sua colega de classe. E não se trata de um spoiler: a informação é apresentada logo no primeiro episódio. A questão que a série levanta não é quem nem como, mas por quê. E não há resposta simples nem única. Online e sem conhecimento  dos seus pais, Jamie sofria bullying de Katie e acessava conteúdos redpill e incel, duas subculturas violentas da internet que compõem a chamada machosfera ou manosfera. Redpill é o termo usado para designar indivíduos e grupos que pregam uma  superioridade masculina radicalizada e que compartilham conteúdos misóginos, de ódio e submissão de mulheres. Já incel, flexão em inglês das palavras involuntário e celibatário, indica pessoas que não conseguem encontrar um par romântico ou sexual. Majoritários entre os incels, os meninos culpam as mulheres por seu celibato involuntário e, em muitos casos, pregam a violência como uma vingança. Especialistas alertam que este tipo de conteúdo é cada vez mais comum na internet, atrai adolescentes vulneráveis em busca de pertencimento e tem potencial para radicalizá-los a ponto de discursos de ódio online se concretizarem em crimes cometidos no mundo real.

(Adaptado de Fernanda Mena. Radicalização de jovens é gradual e afeta vulneráveis, dizem especialistas. Folha de São Paulo. 25/03/2025.)

2. Em 2014, em Isla Vista, na Califórnia (EUA), Elliot Rodger, um jovem de 22 anos que se autodenominava incel, matou seis pessoas e feriu 14 em uma tentativa de “punir” as mulheres que o rejeitaram. Rodger gravou um vídeo antes do ataque e afirmou que cometeu os assassinatos porque as mulheres não queriam fazer sexo com ele. Depois, ele mesmo se matou. Em 2018, dez pessoas morreram atropeladas em Toronto, no Canadá, por um automóvel dirigido por Alek Minassian. Dias antes, Minassian havia publicado em sua conta no Facebook diversas mensagens sobre sua frustração: “A Rebelião Incel já começou!”, escreveu. Em 2021, foi a vez de Jake Davison, que divulgava muitas ideias associadas aos incels em suas redes sociais, matar cinco pessoas no norte da Inglaterra. Após o ataque de Davison, as autoridades do Reino Unido manifestaram a intenção de declarar os grupos incels como “organizações terroristas”.

(Adaptado de BBC News Mundo. Quem são os incels, o movimento sombrio retratado na aclamada série “Adolescência”. 21/03/2025.)

3. A expansão da machosfera exige uma resposta coordenada entre poder público e sociedade civil. A atuação precisa combinar mecanismos legais já existentes, projetos de educação e iniciativas voltadas à prevenção da violência de gênero e da radicalização masculina. No campo jurídico, quatro leis brasileiras já são aplicadas em casos de violência online: 

  • A Lei Maria da Penha, de 2006, passou a proteger não só vítimas de violência doméstica, como também de agressões digitais.
  • A Lei Lola Aronovich, de 2018, permite à Polícia Federal investigar conteúdos misóginos que incentivem o ódio contra mulheres.
  • A Lei do Sinal Vermelho, de 2021, passou a reconhecer a violência psicológica como crime, com punição para situações que envolvam ameaças, perseguições ou manipulação emocional, tanto online quanto presencialmente.
  • A Lei 15.123/25, conhecida informalmente como “Lei dos Deepfakes”, de 2025, reconhece a violência psicológica contra mulher praticada com uso de inteligência artificial ou qualquer outro recurso tecnológico.

(Adaptado de Sara Coutinho. Machosfera: a violência de gênero no ambiente digital. Nexo Jornal. 19/06/2025.)

4. Segundo Christian Dunker, professor de Psicologia Clínica da USP, os sentimentos expostos pelo red pill revelam dificuldades enfrentadas pelos próprios homens, que se veem com culpa e vergonha. “Sofrem porque se sentem criminosos sociais, porque são obrigados a transformações que têm efeitos depressivos. E a violência, muitas vezes, é efeito colateral disso. É um sofrimento mal reconhecido, negado e invisível socialmente. Evolui, em tese, para formação de sintomas, para violência e disruptividade social.”

(Adaptado de Leon Ferrari. Red Pill: O que ‘coaches’ de masculinidade, como ‘Calvo do Campari’, têm a ver com machismo? Estadão. 12/03/2023.) 

Proposta 2

Você trabalha no setor de Recursos Humanos (RH) de uma empresa e, certo dia, escutou de um/a jovem estagiário/a o seguinte desabafo: “Se tudo der errado, vou virar CLT”. Foi então que você notou que, atualmente, “ser CLT” adquiriu um sentido pejorativo e que a expressão tem sido usada como xingamento entre jovens. Preocupado/a com essa conotação jocosa atribuída aos/às celetistas, você decidiu escrever uma nota de esclarecimento formal e institucional a ser enviada a todos/as os/as estagiários/as da empresa. Em sua nota, você: a) explica o significado de “ser CLT” e sua importância histórica; e b) argumenta no sentido de esclarecer aos/às estagiários da empresa os impactos desse regime trabalhista para o país. Para cumprir essas tarefas, você deve, obrigatoriamente, apropriar-se de elementos da coletânea a seguir, demonstrando leitura crítica dela na elaboração de seu texto.

1. CLT é a sigla para a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), conjunto de normas reguladoras estabelecidas para assegurar os direitos trabalhistas no Brasil. Trata-se de uma lei de âmbito federal que tem como objetivo determinar os direitos e deveres dos empregados e seus empregadores. Ou seja, a CLT serve para regulamentar a relação de trabalho de ambas as partes, o que inclui a remuneração, jornada e condições de trabalho, saúde do trabalhador, férias, licenças, vale-transporte, aviso prévio, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), seguro desemprego etc. É importante ressaltar que a aplicação da CLT se refere aos empregos formais, em que o trabalhador tem a carteira assinada e jornada de trabalho registrada. Com abrangência nacional, a CLT garante a proteção dos direitos do trabalhador e evita a ocorrência de abusos, assegurando condições justas e dignas de trabalho. Além disso, estabelece quais são as obrigações dos empregadores, como pagar a contribuição para a Previdência Social.

(Adaptado de Diário Oficial – Portal de envio de matérias. 30/08/2024.)

2. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no Brasil, assim como em outros países, a indústria capitalista mecanizada associou, em seus primeiros tempos, “tanto a exploração extensiva como a intensiva da força de trabalho”. Os operários eram submetidos a jornadas de 10 a 12 horas, muitas vezes acrescidas de horas-extras. Era comum aumentar a velocidade das máquinas, impor multas ou utilizar violência contra os trabalhadores. Foi a partir de 1932, com o início da implantação da ampla reforma trabalhista da Era Vargas, que o tema passou a ser tratado com profundidade. Em 4 de maio, o presidente baixou o decreto 21.364, que instituiu a jornada de oito horas diárias e 48 horas semanais na indústria. A CLT limitou o período de trabalho adicional a duas horas-extras diárias. Além disso, criou as férias de 30 dias e, posteriormente, incorporou o descanso semanal remunerado (Lei 605/1949).

(Adaptado de Senado Federal. Jornada de trabalho de 8 horas na indústria completa 75 anos. Senado Notícias, 03/05/2007.)

3. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi criado em 1967 pelo Governo Federal para proteger o trabalhador em momentos de vulnerabilidade como demissão sem justa causa, pagamento de tratamento para doenças graves, entre outras possibilidades. Além de ser uma poupança do trabalhador, os recursos do FGTS podem ser utilizados para a compra de moradia nos casos de aquisição de imóvel novo ou usado, construção, liquidação ou amortização de dívida vinculada a contrato de financiamento habitacional. No período de 2009 até setembro de 2022, foram investidos R$ 725 bilhões do FGTS em obras de habitação popular. Desde 2009, já foram contratadas 6,8 milhões de unidades habitacionais e foram gerados mais de 22 milhões de empregos diretos e indiretos com os investimentos oriundos de recursos do FGTS. A importância do uso dos recursos do Fundo para o desenvolvimento do país ultrapassa ainda os benefícios da moradia digna, pois o FGTS financia, também, obras de saneamento e infraestrutura, gerando melhorias na qualidade de vida, ao proporcionar água de qualidade, coleta e tratamento do esgoto sanitário.

(Adaptado de ABRAINC Explica: FGTS e sua importância para a habitação. ABRAINC, 02/02/2023.)

4. Um argumento utilizado é que a CLT prevê direitos demais, o que encarece a contratação de mão de obra e desencoraja os empresários. “Esse é mais um dos argumentos descaradamente falaciosos”, refuta o sindicalista Renato Bignami. “Empregos são criados quando o governo cuida adequadamente da economia do país e estimula atividade produtiva. A função das leis trabalhistas é proteger o ser humano da exploração no trabalho, garantindo a ele bem-estar e qualidade de vida para que a sociedade como um todo progrida”, conclui. Essa história de que as empresas não suportariam o custo dos direitos trabalhistas é velha. Nos anos 1960, quando se propôs o 13º salário, os empresários se opuseram duramente à medida alegando que era 
dinheiro demais a ser pago e que acabariam indo à falência. Obviamente, a previsão catastrofista não se confirmou. Pelo contrário, os empresários passaram a lucrar mais, já que o salário extra na mão do trabalhador no fim do ano estimulou o consumo, o comércio e a indústria.

(Adaptado de Senado Federal. Westin, Ricardo. CLT chega aos 80 anos com direitos do trabalhador sob disputa. Agência Senado, 28/04/2023.)

5. Até dezembro de 2024, o pagamento do 13º salário tem o potencial de injetar na economia brasileira cerca de R$ 321,4 bilhões. Este montante representa aproximadamente 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e será pago aos trabalhadores do mercado formal, inclusive aos empregados domésticos; aos beneficiários da Previdência Social e aposentados e beneficiários de pensão da União e dos estados e municípios. Cerca de 92,2 milhões de brasileiros serão beneficiados com rendimento adicional, em média, de R$ 3.096,78. As estimativas são do DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.

(Adaptado de DIEESE. Pagamento do 13º salário poderá colocar R$ 321,4 bilhões na economia do país. Nota à imprensa, 13/11/2024.)

Você deverá escolher apenas UMA das propostas para desenvolver. Não se esqueça de marcar a proposta escolhida na folha de resposta reservada para a Redação.

Comentário:

Proposta 1

A Proposta 1 exigia a produção de um depoimento pessoal, no qual o/a candidato/a assumiria a máscara discursiva de um jovem jornalista que ingressa, de modo investigativo, em uma comunidade daquilo que se nomeia machosfera (comunidades virtuais criadas para a prospecção do machismo e da misoginia) para compreender sua lógica interna. A situação comunicativa pressupunha que esse depoimento seria publicado em um jornal de mídia impressa, dirigindo-se, portanto, a um público amplo e não especializado, mas interessado em temas contemporâneos de violência de gênero, cultura digital e comportamento juvenil.

Para tanto, foi solicitado ao candidato que narrasse um episódio violento testemunhado no espaço virtual (tarefa A), a partir do qual o candidato deveria argumentar no sentido de defender o combate ao discurso de ódio contra as mulheres nesse espaço (tarefa B). Tendo em vista o contexto e as tarefas, compreende-se que a proposta apresentou um texto narrativo-reflexivo, de caráter subjetivo, que deveria ser redigido em 1ª pessoa do singular (eu). Cabe destacar que a proposta envolvia, obrigatoriamente, articular elementos da coletânea e demonstrar leitura crítica.

O Texto 1 trazia a série “Adolescência” (Netflix) e a ideia de que o perigo está dentro de casa. Esse texto pode ter apoiado a construir a máscara discursiva do jovem jornalista que percebe, ao longo da investigação, que a violência ligada à machosfera não é algo distante ou caricatural, mas cotidiana. O caso ficcional da série permitia contextualizar a origem do discurso de ódio, seu vínculo com questões de ordem psicológica (como bullying, solidão, frustração afetiva) e as comunidades online. Nessa linha, o candidato poderia usar esse texto para a execução da tarefa A, assim reforçando a dimensão subjetiva e emocional do depoimento, mostrando como jovens vulneráveis podem ser capturados por narrativas de ressentimento.

Com o Texto 2, o candidato pode compreender os episódios reais de violência cometidos por membros da machosfera. Como o texto apresenta casos concretos, o jornalista poderia usá-los para criar breves narrativas semelhantes às dos autores de ataques. Esse texto contribuiu para dar verossimilhança e gravidade ao depoimento do jornalista, assim incrementando elementos para a máscara discursiva, a situação comunicativa e a tarefa A.

O Texto 3, por sua vez, abordava os riscos da expansão da machosfera e necessidade de políticas públicas. Esse texto poderia ser usado para qualificar o tom reflexivo do depoimento, esperado para a tarefa B, ao ampliar o olhar do jornalista: além da experiência pessoal vivida na comunidade, ele compreende o fenômeno como parte de uma dinâmica social maior. As leis mencionadas serviram como repertório para construir um fechamento crítico, apontando que o problema requer respostas institucionais e que a narrativa individual apresentada é apenas um recorte de uma questão mais ampla e estrutural.

Por fim, o Texto 4 contribuiu com uma perspectiva psicológica, a partir das ideias do psicanalista Christian Dunker. Esse texto reforçou o ponto de vista do jornalista, posicionado como um observador atento às dimensões emocionais dos indivíduos que compõem esses grupos na machosfera. As ideias sugeridas pelo psicanalista são um convite à complexificação do debate, pois contêm tramas de sofrimento, vergonha e sensação de inadequação, elementos que o candidato pode integrar ao depoimento para aprofundar o grupo observado, evitando caricaturas, e também expandir para críticas à forma como são estabelecidas as relações na sociedade contemporânea. Nesse sentido, é um texto que contribuiu para as tarefas A e B.

Considera-se, dessa forma, que a proposta apresentava bons insumos para a escrita do depoimento pessoal, ainda que representasse um desafio aos candidatos por obrigar a criação de uma máscara discursiva distante de suas realidades pessoais. Vale destacar a importância de uma temática muito atual e de muito impacto social para o contexto brasileiro, o que pode ter levado muitos candidatos à escolha dessa proposta.

Proposta 2

A Proposta 2 solicitava a produção de uma nota de esclarecimento (um gênero do tipo expositivo-argumentativo), na qual o/a candidato/a assumiria a máscara discursiva de um profissional do setor de Recursos Humanos de uma empresa. Esse enunciador deveria responder ao desabafo de uma jovem estagiária, o qual revelava o desconhecimento acerca do significado histórico da CLT e incorporava ao próprio discurso sobre esse dispositivo legal uma conotação pejorativa, cada vez mais comum entre jovens trabalhadores. A situação comunicativa pressupunha que essa resposta seria lida no contexto corporativo, dirigida à própria estagiária e, por extensão, a outros colaboradores.

Para tanto, a proposta exigia que o candidato explicasse o significado e a relevância histórica da CLT (tarefa A) e argumentasse criticamente, a partir dos elementos da coletânea, sobre os impactos desses direitos na vida dos trabalhadores (tarefa B). Dada a máscara discursiva e o contexto de circulação, compreende-se que o texto deveria adotar um tom formal e pedagógico, tendo, assim, uma finalidade institucional e instrutiva, capaz de corrigir a visão distorcida da estagiária, ao mesmo tempo em que reafirma a CLT como um marco civilizatório nas relações de trabalho. Nesse sentido, é possível esperar textos que utilizassem marcas de 1ª pessoa do singular (eu) para demarcar a máscara enunciativa ou, devido ao caráter institucional, também seria viável a escrita desse gênero no modo impessoal (em 3ª pessoa). Vale destacar que, assim como a Proposta 1, esta envolvia, obrigatoriamente, a articulação dos textos da coletânea e a demonstração de leitura crítica.

Na coletânea, o Texto 1 apresentava a CLT como um conjunto de normas criado para assegurar direitos e deveres entre empregadores e empregados, destacando que seu objetivo principal é garantir relações de trabalho justas, equilibradas e protegidas do ponto de vista jurídico. Além disso, explicava elementos específicos da legislação trabalhista, como férias, 13º salário, FGTS, jornada de trabalho, vale-transporte e outros mecanismos de proteção social. Esse texto poderia ser mobilizado de modo direto para a tarefa A, pois fornece ao candidato o repertório conceitual necessário para esclarecer, com autoridade técnica, o verdadeiro significado de “ser CLT”. No papel de profissional de RH, o candidato seria capaz de desconstruir a interpretação pejorativa da estagiária ao mostrar que a CLT não é símbolo de fracasso, mas de direitos historicamente conquistados, essenciais para a dignidade do trabalhador. Além disso, por se tratar de um texto de caráter institucional, permitiria ao candidato construir uma máscara sólida, adequada ao contexto.

Nessa mesma linha, o Texto 2 situava a CLT no contexto histórico da intensa exploração dos trabalhadores durante a industrialização, destacando jornadas extensas, acidentes, punições e precarização generalizada. Além disso, foram referidos momentos emblemáticos, como a jornada de 12 a 14 horas diárias imposta nas décadas iniciais do século XX, e o avanço representado pela reforma trabalhista, que instituiu limites à jornada e outras garantias formais. Esse texto seria especialmente útil para problematizar a visão da estagiária, que enxerga o regime CLT como algo negativo, ignorando o cenário que justificou sua criação. Assim, contribuiu tanto para a tarefa A (complementando a explicação histórica da CLT) quanto para a tarefa B, ao reforçar o argumento de que os direitos trabalhistas são frutos da luta contra abusos sistemáticos e que sua desvalorização revela desconhecimento sobre o passado.

Por sua vez, o Texto 3 enfatizava que o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), criado para proteger trabalhadores demitidos sem justa causa, também se tornou um instrumento estrutural de desenvolvimento nacional, financiando habitação, saneamento, infraestrutura e ampliando o bem-estar coletivo. Esse dado extrapola a dimensão individual do direito para revelar uma função sistêmica, associada ao crescimento econômico e à melhoria das condições de vida no país. Essa perspectiva permite ao candidato reforçar, na tarefa B, que a CLT não é apenas um mecanismo de proteção ao trabalhador individual, mas parte de uma engrenagem social que beneficia toda a coletividade. Para um profissional de RH, isso possibilitaria destacar que os direitos trabalhistas são também políticas públicas indiretas, que promovem segurança socioeconômica, demanda interna e desenvolvimento sustentável. Assim, o candidato ampliaria o potencial argumentativo da resposta ao inscrevê-la em uma lógica mais ampla.

Como forma de desenvolver os contrapontos associados à temática, o Texto 4 apresentava a crítica de que a CLT encarece contratações (argumento muito recorrente no senso comum) para, em seguida, desmenti-lo, mostrando que a verdadeira causa da falência de empresas não está na legislação trabalhista, mas em má administração, exploração excessiva da mão de obra ou descumprimento de direitos. O texto também enfatizava o caráter civilizatório da CLT, atuando contra práticas abusivas. Dessa forma, percebe-se como esse texto ajudaria o candidato a construir uma parte contra-argumentativa do texto, aprofundando a tarefa B. No papel de RH, o candidato poderia confrontar diretamente a percepção manifestada pela estagiária (sem mencioná-la diretamente, devido aos cuidados com a polidez na situação comunicativa), esclarecendo que culpar a CLT por problemas estruturais das empresas é um equívoco amplamente difundido, mas infundado.

Por fim, o Texto 5 abordou o impacto do 13º salário no Produto Interno Bruto (PIB), revelando que o benefício injeta, anualmente, mais de R$300 bilhões na economia, impulsionando comércio, serviços e a renda de milhões de famílias. Trata-se de um dado que amplia o debate sobre direitos trabalhistas para o campo da economia nacional, relacionando-se ao Texto 3 e permitindo ao candidato, mais uma vez, desenvolver a tarefa B, entendendo a CLT como um mecanismo vital para a estabilidade econômica.

Assim, observa-se que a coletânea, como um todo, possibilitou ao candidato construir um texto que cumpre as tarefas A e B, além de fornecer elementos que contribuíram para a situação comunicativa e a máscara discursiva necessária. Devido ao seu caráter argumentativo-expositivo e à clareza das informações fornecidas, esta proposta pode ter sido a escolha por parte de candidatos mais acostumados à escrita da dissertação argumentativa.

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