Questão 3 - ITA - 2ª Fase Dia 4 - ITA 2025

Gabarito

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  • Resolução pendente

  • ANL

    Questão anulada

  • S/A

    Sem alternativas

Questão 3

Objetiva
3

Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 4.

Carta para o Brasil

10 de setembro de 2020.

               Caro Brasil,

               Das minhas muitas viagens à América do Sul, nunca tive a oportunidade de
5        visitar você. A maioria delas teve como destino a Cordilheira dos Andes, com o
          objetivo de observar o magnífico céu do hemisfério sul através de telescópios de
          alta tecnologia de um consórcio internacional. Mas, mesmo assim, tenho pensado
          em você com bastante frequência.

               Como nativo dos Estados Unidos da América, sei em que costumamos
10      pensar quando se trata de você. Não seguindo uma ordem específica, você
          possui a maior e mais importante floresta tropical do mundo. Você abriga o maior
          rio do mundo, que, a cada minuto que passa, escoa para o oceano Atlântico
          um volume de água que daria para encher um estádio de futebol. E, sim, nós
          sabíamos da existência de seu rio e de sua floresta tropical muito antes de a
15      Amazon.com1 pegar o nome emprestado.

               Quer mais? Não há quem não goste de castanha-do-brasil2. Na verdade,
          nos EUA, nós precisamos pagar pelo pacote “premium” para que elas venham
          incluídas em nossos mix de castanhas. E mesmo aqueles de nós que quase
          não acompanham futebol sabem da existência de seus times famosos, ficando
20      na maior expectativa de ver você na final da Copa do Mundo a cada quatro anos.
          Também sabemos das suas praias deslumbrantes pelas músicas que as cantam
          — a “Garota de Ipanema” sendo uma delas. Sabemos de suas festas populares,
          principalmente o Carnaval, e tentamos imitar a intensidade e a alegria dessas
          celebrações — com dança e música — aqui no nosso hemisfério. Sabemos
25      do seu café. E eu, particularmente, amo a sua bandeira. Há um pedaço do céu
          noturno estampado nela; mais de duas dezenas de estrelas retraçam constelações
          autênticas, incluindo o Cruzeiro do Sul. Então, se você perguntasse a qualquer
          um de nós nos EUA o que vem à nossa cabeça quando seu nome é mencionado,
          normalmente selecionaríamos algo a partir dessa lista.

30               Você sabe do que nós não nos damos conta? Metade das vezes que
          embarcamos em voos domésticos, da American Airlines ou de outras companhias
          aéreas, viajamos num avião da Embraer. Tudo bem, o folheto com instruções de
          segurança traz impresso nele o nome Embraer. Nós podemos até achar Embraer
          escrito em letras miúdas em algum lugar da fuselagem. Mas quase nenhum de
35     nós sabe que a aeronave é projetada e fabricada no Brasil. Você poderia alardear
          “Tecnologia Brasileira”, mas não o faz. Por que não? A Alemanha não hesita em
          se gabar da dela. Nada mais justo, claro. Todo mundo conhece a qualidade dos
          produtos fabricados na Alemanha, que, por sua vez, permeiam sua economia
          aeroespacial, a terceira maior do mundo.

40               Mas, espere. Um dos grandes pioneiros nos primórdios da aviação era
          brasileiro. Engenheiro brilhante e inventivo, altamente condecorado, Alberto Santos
          Dumont liderou a transição mundial do transporte aéreo mais leve que o ar para o
          mais pesado que o ar. O valor de uma semente cultural como essa, plantada no
          nascimento de uma indústria, é incalculável. Um século depois, você se tornou
45      líder em tecnologias de biocombustíveis — um passo fundamental em direção
          a uma economia verde onde nossa harmonia com a natureza vai determinar se
          iremos prosperar, sobreviver ou nos extinguir. Você também possui uma ambiciosa
          agência espacial, além de ser a sexta maior indústria aeroespacial do mundo. Na
          América Latina, você também é líder em Tecnologia da Informação. E num país
50     famoso por sua agricultura, quase um terço de sua economia se apoia num setor
          produtivo impregnado de tecnologia.

               Então talvez seja a hora de o mundo saber mais a respeito disso. Talvez seja
          a hora de os brasileiros saberem mais sobre isso. Talvez esteja mais do que na
          hora de você exibir produtos que declarem: “Fabricado no Brasil.”

55           Seja o que mais for, ou não, verdade no mundo, as economias de crescimento
          do futuro — mesmo as que possam ser puramente agrícolas — vão
          girar em torno dos investimentos feitos hoje em ciência, tecnologia, engenharia
          e matemática. Numa democracia, esses investimentos fluem de um eleitorado
          letrado cientificamente, que elege líderes esclarecidos e que entendem o valor
60     da educação, das pesquisas e das descobertas. Sem essas perspectivas, ainda
          estaríamos vivendo em cavernas, com alguns de nós resmungando: “Você não
          pode explorar o mundo exterior. Primeiro precisa resolver os problemas da nossa
          caverna.”

               Para que ninguém se esqueça, o primeiro (e único) astronauta sul-americano
65      foi um engenheiro aeronáutico brasileiro. E quando se deu o lançamento de sua
          missão? Em 2006, ano do centenário do primeiro avião bem-sucedido de Santos
          Dumont. E o que ele levou para o espaço? Uma bandeira do Brasil e uma camisa
          da seleção brasileira de futebol.

               Os países que mais passam por dificuldades no mundo tendem a ser aqueles
70      com baixos níveis de instrução e com ausência de STEM³ em sua cultura. Você
          tem os recursos e o legado para liderar toda a América Latina, se não o mundo, no
          que um país do futuro deveria ser — no que um país do futuro deveria aspirar ser.

               Se você abraçar e apoiar suas indústrias STEM — e o setor de tecnologia
          inteiro — então os sonhos dos alunos em toda a cadeia educacional não terão
75     limites, conforme eles forem introduzidos num mundo em que foguetes são o que
          alimentam as ambições das pessoas que saem pela porta da caverna.

               Atenciosamente,

               Neil deGrasse Tyson

Fonte: TYSON, Neil deGrasse. Respostas de um astrofísico. Tradução de Nicolas Pettengill; revisão
técnica de Alexandre Cherman. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2020. Recurso eletrônico disponível em:
https://neildegrassetyson.com/letters/2020-09-10-letter-to-brazil/portuguese-version.

1 Amazon é a palavra em inglês tanto para Amazonas, quanto para amazônica. 
2 Também chamada de castanha-do-pará.
3 STEM e a sigla em inglês para Science, Technology, Engineering e Mathematics (Ciência, Tecnologia,
Engenharia e Matemática).

Historicamente, a carta é um dos principais meios de comunicação interpessoal; ela pode conter mensagens pessoais, profissionais, intelectuais e até constituir-se uma forma de comunicação artística. Esta carta do astrofísico americano Neil deGrasse Tyson não foi escrita para uma única pessoa, mas para um país inteiro. Sua abordagem personifica o país ao tratá-lo por “você”, principalmente nos primeiros parágrafos, mas vai paulatinamente desenvolvendo uma abordagem argumentativa. Tyson já apresentou vários programas de televisão; é um autor reconhecido na divulgação e popularização da Ciência e sua carta ao Brasil, publicada no lançamento de seu livro Respostas de um astrofísico (2020), representa suas convicções.




No trecho “[...] num mundo em que foguetes são o que alimentam as ambições das pessoas que saem pela porta da caverna.”, Neil deGrasse Tyson faz uso de um processo de intertextualidade denominado

Alternativas

  1. A

    Citação direta: transcrição de trechos autênticos do original.

  2. B

    Citação indireta: referência aos trechos autênticos do original.

  3. C

    Paráfrase: uso em estilo próprio da referência original.

  4. D

    Alusão: menção ao texto original, de forma livre e generalista.

  5. E

    Plágio: cópia com intenção de apropiar-se da ideia original.

Gabarito:
    D

Na carta, o autor faz uso de um mecanismo de intertextualidade denominado “alusão”. Esse mecanismo consiste em uma breve referência a um texto, feita de forma livre e sem preservar a estrutura da mensagem indiretamente mencionada. Nesse sentido, Neil deGrasse recorre à alusão do “Mito da Caverna”, de Platão, para indicar que o investimento em ciência e tecnologia permitirá aos jovens brasileiros assumirem um papel de protagonismo no desenvolvimento da ciência.

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