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— Gostaria de entrar para um convento. Acho que seria feliz num convento, ficaria lá quietinha, olhando o mundo lá longe, envelhecendo em paz, sem testemunhas, tenho pavor das testemunhas, descobri que o que mais me apavora, tanto na vida como na morte, são as testemunhas. Sempre estou encontrando alguém que se lembra de mim nesta ou naquela data, as testemunhas são tão atentas, uma memória! Por que as pessoas têm tanta memória? Eu estava num jantar tão alegrinha e veio alguém que me olhou, olhou e começou com aquela conversa que me arrepia inteira, acho que você não está mais se lembrando de mim... Oh Deus, quando ouço esse começo já fico gelada, começa assim, aposto que você não está se lembrando! Faço aquela cara vaga, disfarço mas não adianta, a testemunha é um bico voraz me arrancando os fiapos de carne, tuque-tuque, não vai deixar a presa, uma voracidade, não foi em? ... A data.
Lygia Fagundes Telles. As meninas.
Ouvi direito? O que estou relatando é o que ouvi? (...). A fala suspensa foge da escrita. E mais, a grafia não registra a intensidade de um silêncio intervalar, diante de um renovado estado de estupor, vivido na hora das relembranças. Se contar e recontar são atos marcados por sinais de incompletude, pois difícil é traduzir os intensos sentidos da memória, imaginem escrever. Imaginem perseguir uma escrevivência. Agarrar a vida, a existência, e escrevê-la em seu estado de acontecimentos. Mas persisto nessa intenção. (...) Não descanso, não durmo, não fecho os olhos, não me distraio. Vigio tanto que nem sei se oro. Capto como testemunha ocular ou como ouvinte a dinâmica de vidas que se confundem com a minha, por algum motivo.
Conceição Evaristo. Canção para ninar menino grande. Introdução. “Das minúcias ao engrandecimento”.
Nos excertos apresentados, observe que a memória é uma estratégia narrativa, interferindo nas ações e emoções das personagens que viveram e testemunharam o passado. Nesse contexto,
a) identifique como os romances recorrerem à memória como recurso narrativo, comparando-os.
b) aponte duas diferentes consequências dessa estratégia narrativa em ambos os romances.
a) Ambos os romances recorrem à memória através do testemunho de suas personagens. Em ambos os romances, a memória não se apresenta apenas como lembrança, mas como um recurso que dá profundidade às personagens femininas, ao demarcar características peculiares das mulheres, e como recurso que delineia os seus desenvolvimentos a partir da relação que possui com o mundo e com outros personagens.
b) Em “As meninas”, a memória, representada pela consciência de três personagens, define as escolhas individuais de cada uma frente aos acontecimentos da época e de suas vidas, em “Canção para ninar menino grande”, ao passo que também representa ações de diferentes mulheres, elas norteiam-se à constituição de uma irmandade de mulheres que possuíram experiências amorosas semelhantes com um mesmo homem. Em “As meninas” a memória está centrada em três meninas figuradas em meio à burguesia urbana durante a Ditadura Militar, enquanto “Canção para ninar menino grande” conta a memória de mulheres pertencentes a diferentes classes sociais e cidades.
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