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Leia o ensaio “Liberdade e necessidade ao revés”, do economista e filósofo Eduardo Giannetti, para responder às questões 19 e 20.
“Por meios honestos se você conseguir, mas por quaisquer meios faça dinheiro”, preconiza — prenhe de sarcasmo — o verso de Horácio. Desespero, precisão ou cobiça, dentro ou fora da lei: o dinheiro nos incita a fazer o que de outro modo não faríamos. Suponha, entretanto, um súbito e imprevisto bafejo da fortuna — um prêmio lotérico, uma indenização milionária, uma inesperada herança. Quem continuaria a fazer o que faz para ganhar a vida caso não fosse mais necessário fazê-lo? Estamos acostumados a considerar o trabalho como algo a que nos sujeitamos, mais ou menos a contragosto, a fim de obter uma renda — como um sacrifício ou necessidade imposta de fora; ao passo que o consumo é tomado como a esfera por excelência da livre escolha: o território sagrado para o exercício da nossa liberdade individual. A possibilidade de satisfazer, ainda que parcialmente, nossos desejos e fantasias de consumo se afigura como a merecida recompensa — ou suborno, diriam outros — capaz de atenuar a frustração e aliviar o aborrecimento de ocupações que de outro modo não teríamos e não nos dizem respeito. Daí que, na feliz expressão do jovem Marx, “o trabalhador só se sente ele mesmo quando não está trabalhando; quando ele está trabalhando, ele não se sente ele mesmo.”
Mas, se o mundo do trabalho está vedado às minhas escolhas e modo de ser; se nele não passo de alavanca biótica intercambiável ou tapa-buraco da inventividade humana, até que um robô ou “máquina inteligente” me substitua com vantagem; e se, naquilo que faço na maior parte das horas despertas, deixo de ser quem sou e não encontro espaço para a autoexpressão e a realização criativa, como poderei então revelar-me ao mundo e àqueles que prezo naquilo que sou? Onde poderei expressar a minha individualidade? Impedido de ser quem sou no trabalho — escritório, chão de fábrica, call center, guichê, balcão —, extravaso a minha identidade no consumo — shopping, butique, salão, restaurante, showroom. Fonte de elã vital, o ritual da compra energiza e a posse ilumina a alma do consumidor. A compra de bens externos molda a identidade e acena com a promessa de distinção: ser notado, ser ouvido, ser tratado com simpatia, respeito e admiração pelos demais. Não o que faço, mas o que possuo — e, sobretudo, o que sonho algum dia ter — diz ao mundo quem sou. Servo impessoal no ganho, livre e soberano no gasto.
(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016.)
a. Transcreva uma frase do texto em que o autor se dirige explicitamente a seu leitor. Justifique sua resposta.
b. “o que possuo [...] diz ao mundo quem sou” (2° parágrafo)
Identifique o sujeito do verbo “possuo” e o sujeito do verbo “diz”.
a. Na frase “Suponha, entretanto, um súbito e imprevisto bafejo da fortuna”, o autor dirige-se explicitamente ao leitor, uma vez que, ao empregar um verbo no imperativo, ele expede um comando ao receptor que, nesse caso, é o leitor. Verbos no imperativo sempre apresentam o receptor como o seu sujeito, assim sendo, quando o autor diz “Suponha”, ele ordena algo ao seu receptor, o leitor.
b. O verbo “possuo” apresenta como seu sujeito um sujeito oculto cujo referente é “eu”, o emissor. Já o verbo “diz” tem como seu sujeito “o que possuo”.
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