Questão 8 - Conhecimentos Gerais - Santa Casa 2025

Gabarito

Questão 8

Objetiva
8

Para responder às questões de 07 a 10, leia a crônica “O tapete persa” de Fernando Sabino.

     Comprou o tapete, colocou-o no imenso living e ficou olhando. Mal se podia pisar com um pouco mais de firmeza, o dono do tapete logo perdia o fio da conversa. Se por acaso um amigo acendia um cigarro, ah, isso não, meu velho, tenha santa paciência, mas vá fumar ali fora, na varanda, isso aqui é tapete pra muito luxo, me custou os tubos, da Pérsia ali no duro, se me cai uma brasinha no chão eu lhe mando a mão na cara, desculpe a franqueza, mas comigo é assim, mais vale prevenir que remediar.
     A mulher já nem podia receber em casa uma visita de cerimônia, porque logo de entrada ele ia avisando:
      — Vai limpar o pezinho aí no capacho, não vai? Tapete novo ali na sala, coisa pra muito luxo, a senhora compreende... Preço de um automóvel!
      Quem pelo preço de um tapete compra um automóvel hoje em dia? Era o que ele pensava, quando se meteu no seu com toda a família e foi passar o verão em Petrópolis. Recomendara à empregada cuidados especiais com o tapete. [...]
      Um belo dia a empregada descobriu, com pavor, que o tapete apresentava aqui e ali pequenas manchas de mofo. Abriu todo o apartamento, mas, não satisfeita, resolveu dependurar o tapete na amurada da varanda para que apanhasse sol.
      Ora, acontecia morar no apartamento de baixo um americano que invariavelmente chegava bêbado todas as noites e ainda bebia mais um pouco antes de dormir, mais um pouco ao levantar-se. Naquele dia, tendo o tapete obstruído por completo sua janela, cuidou ao acordar que ainda era noite e voltou para a cama. Afinal, cansado de dormir, acendeu a luz e olhou o relógio: duas horas. Não poderia estar tão bêbado assim — convenhamos que às duas horas da tarde o dia já deveria ter pelo menos começado a clarear. Ou passara o dia todo dormindo e seriam duas horas da noite?
      Avançou para a janela e deu de cara com o tapete. Vendo que não conseguia olhar para fora, voltou-se, resignado, sem buscar uma explicação. Buscou antes uma faca e meteu-a no tapete como no ventre de um peixe, abrindo-o de alto a baixo. Depois enfiou a cabeça pelo rombo para ver se lá fora era noite ou dia. Infelizmente era dia. Não se conformando, puxou com violência o tapete e quando afinal acabou de recolhê-lo, deixou que tombasse no espaço e fosse cair lá embaixo, sobre as obras de um edifício em princípio de construção. [...] 
      A empregada apareceu desvairada e, ao ver o tapete no chão enlameado, botou as mãos na cabeça e a boca no mundo:
      — Nossa Senhora, meu patrãozinho me mata!
      No dia seguinte era o patrãozinho que, descendo de Petrópolis, ia ao apartamento de baixo disposto a matar primeiro o americano. No que disse yes, foi-lhe metendo o braço.
      — Just a moment! Just a moment! — berrava o americano, se defendendo. — No fala portuguese! Must be some mistake!
      — Misteique é a mãe — dizia o dono do tapete, enfurecido. Não satisfeito, pôs-se a quebrar coisas no apartamento do outro. Pouco havia que quebrar, além de uma garrafa de “Four Roses” já vazia.
      Afinal, mais calmo, preveniu:
      — No fala portuguese mas pagar tapete, tá bem? Olha aqui, ô gringo, to pay um tápet, morou?
      — Let’s have a drink — propôs o americano.

(Fernando Sabino et al. Elenco de cronistas modernos, 1988.)

O cronista lança mão do chamado discurso indireto livre na composição de seu texto em:

Alternativas

  1. A

    “— Vai limpar o pezinho aí no capacho, não vai? Tapete novo ali na sala, coisa pra muito luxo, a senhora compreende... Preço de um automóvel!” (3º parágrafo).

  2. B

    “Naquele dia, tendo o tapete obstruído por completo sua janela, cuidou ao acordar que ainda era noite e voltou para a cama” (6º parágrafo).

  3. C

    “Um belo dia a empregada descobriu, com pavor, que o tapete apresentava aqui e ali pequenas manchas de mofo” (5º parágrafo).

  4. D

    “— Just a moment! Just a moment! — berrava o americano, se defendendo. — No fala portuguese! Must be some mistake!” (11º parágrafo).

  5. E

    “Se por acaso um amigo acendia um cigarro, ah, isso não, meu velho, tenha santa paciência, mas vá fumar ali fora, na varanda” (1º parágrafo).

Gabarito:
    E

O discurso indireto livre caracteriza-se por ser uma forma de expressão dos pensamentos e ideias do autor por meio da fala de uma personagem, sem nenhum tipo de pontuação ou verbo introdutor de discurso e, por isso, as falas se confundem em um mesmo discurso. Tal recurso empregado pelo cronista pode ser notado no fragmento “ah, isso não, meu velho, tenha santa paciência, mas vá fumar ali fora, na varanda” .

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