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Para responder às questões de 01 a 04, leia um trecho de um folhetim, texto precursor da crônica atual, do escritor José de Alencar, publicado originalmente em 24.09.1854.
É uma felicidade que não me tenha ainda dado ao trabalho de saber quem foi o inventor deste monstro de Horácio1, deste novo Proteu2, que chamam — folhetim; senão aproveitaria alguns momentos em que estivesse de candeias às avessas3, e escrever-lhe-ia uma biografia, que, com as anotações de certos críticos que eu conheço, havia de fazer o tal sujeito ter um inferno no purgatório onde necessariamente deve estar o inventor de tão desastrada ideia.
[...] Fazerem do escritor uma espécie de colibri a esvoaçar em ziguezague, e a sugar, como o mel das flores, a graça, o sal e o espírito que deve necessariamente descobrir no fato o mais comezinho!
Ainda isto não é tudo. Depois que o mísero folhetinista por força de vontade conseguiu atingir a este último esforço da volubilidade, quando à custa de magia e de encanto fez que a pena se lembrasse dos tempos em que voava, deixa finalmente o pensamento lançar-se sobre o papel, livre como o espaço. Cuida que é uma borboleta que quebrou a crisálida para ostentar o brilho fascinador de suas cores; mas engana-se: é apenas uma formiga que criou asas para perder-se.
De um lado um crítico, aliás de boa-fé, é de opinião que o folhetinista inventou em vez de contar, o que por conseguinte excedeu os limites da crônica. Outro afirma que plagiou, e prova imediatamente que tal autor, se não disse a mesma coisa, teve intenção de dizer [...]. Se se trata de coisa séria, a amável leitora amarrota o jornal, e atira-o de lado com um momozinho4 displicente a que é impossível resistir. Quando se fala de bailes, de uma mocinha bonita, de uns olhos brejeiros, o velho tira os óculos de maçado5 e diz entre dentes: “Ah! o sujeitinho está namorando à minha custa! Não fala contra as reformas! Hei de suspender a assinatura.”
(José de Alencar. Ao correr da pena, 2004.)
1monstro de Horácio: figura grotesca imaginada pelo escritor latino Horácio; tal figura conjugava partes de diferentes animais.
2 Proteu: deus marinho, que podia assumir diferentes formas.
3 de candeias às avessas: de mau humor.
4 momozinho: zombaria, galhofa.
5 maçado: aborrecido, entediado.
Constituem expressões empregadas por José de Alencar para caracterizar, respectivamente, o folhetim e o folhetinista:
“monstro de Horácio” (1º parágrafo) e “espécie de colibri” (2º parágrafo).
“candeias às avessas” (1° parágrafo) e “espécie de colibri” (2° parágrafo).
“mel das flores” (2° parágrafo) e “monstro de Horácio” (1° parágrafo).
“novo Proteu” (1° parágrafo) e “mel das flores” (2° parágrafo).
“monstro de Horácio” (1° parágrafo) e “novo Proteu” (1° parágrafo).
No texto referencial, José de Alencar critica o folhetim e o folhetinista, utilizando metáforas para descrever cada um desses elementos. No 1º parágrafo, o autor refere-se ao folhetim como um “monstro de Horácio”. Essa expressão evoca uma crítica à estrutura caótica e à natureza híbrida do folhetim, comparando-o ao monstro descrito pelo poeta latino Horácio, que possuía uma composição incoerente de partes. Assim, o folhetim é caracterizado como algo artificial e desordenado. No 2º parágrafo, José de Alencar descreve o folhetinista como uma “espécie de colibri”, ressaltando sua leveza e instabilidade. A metáfora enfatiza a obrigação de o folhetinista “esvoaçar em ziguezague” e extrair graça e espírito dos eventos mais simples, sugerindo o esforço exigido para atender às expectativas do gênero.
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