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Texto 1
A solidão é um luxo que apareceu tardiamente na história. Durante centenas de milhares de anos, quando o Homosapiens ainda era uma espécie rara e ameaçada, o indivíduo não podia se separar do grupo, da horda, do clã, da tribo, proteção indispensável diante dos perigos da vida selvagem. Perdido nos espaços imensos e hostis, ele só podia sobreviver em grupo. Tanto intelectual como materialmente, a solidão lhe era estranha. E durante muito tempo ele pôde se pensar apenas como membro de uma comunidade.
A criação dos primeiros Estados organizados, cidades, reinos, impérios, oficializou essa situação, formalizando e multiplicando os laços que ligam o indivíduo a grupos variados: família, grupos profissionais e políticos, associações religiosas e de lazer, confrarias, classes sociais. O homem antigo estava aprisionado numa rede fechada de dependências que não abria espaço para o isolamento nem para a solidão.
(Georges Minois. História da solidão e dos solitários, 2019.)
Texto 2
Ó solidão do boi no campo,
ó solidão do homem na rua!
Entre carros, trens, telefones,
entre gritos, o ermo profundo.
Ó solidão do boi no campo,
ó milhões sofrendo sem praga!
Se há noite ou sol, é indiferente,
a escuridão rompe com o dia.
(Carlos Drummond de Andrade. “O boi”. Poesia 1930-1962, 2012.)
Texto 3

(Jean. Vó, 2010.)
Texto 4
Uma em cada seis pessoas no mundo sofre de solidão, um problema que, juntamente com o isolamento social, afeta a saúde mental, pode levar a doenças físicas e contribui para cerca de 871 mil mortes por ano, alertou uma comissão criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater esse fenômeno crescente. O primeiro estudo da Comissão sobre Conexão Social, divulgado em 30.06.2025, diz que a solidão e o isolamento afetam pessoas de todas as idades, incluindo um terço dos idosos e um quarto dos adolescentes. “Numa era em que as possibilidades de conexão são inúmeras, cada vez mais pessoas se sentem isoladas e solitárias”, alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, ao apresentar o estudo. Para Ghebreyesus, a solidão e o isolamento social têm efeitos negativos não só sobre indivíduos, famílias e comunidades, mas também causam bilhões de dólares em custos com saúde e perdas de emprego. A comissão enfatizou que a melhor solução para combater esses problemas é a conexão social. Nesse sentido, o estudo apresenta diversas recomendações, incluindo o fortalecimento da infraestrutura para contato social (parques, bibliotecas, cafés) e o aumento do acesso a cuidados psicológicos.
(Deutsche Welle. “OMS: uma em cada seis pessoas no mundo sofre de solidão”. www.cartacapital.com.br, 30.06.2025. Adaptado.)
Texto 5
Psicólogos da Universidade de Michigan argumentam em estudo recém-publicado que crenças sociais sobre a solidão, perpetuadas pela mídia, podem acabar exacerbando o sentimento negativo de estar só. Além disso, o senso comum sobre a solidão acaba confundindo estar sozinho com se sentir solitário. “É importante deixar bem claro o que é a solidão, e não acho que a mídia e as campanhas de saúde pública façam isso de forma adequada”, diz a autora principal do estudo, Micaela Rodriguez. “A solidão é uma experiência subjetiva, um sentimento. É possível sentir-se solitário mesmo perto de outras pessoas. Não é o mesmo que estar fisicamente sozinho.”
Parte dessa confusão foi propagada nos últimos anos depois de alertas sobre uma “epidemia de solidão”, apontada por instituições como a OMS. A solidão, nesses casos, tem mais a ver com o isolamento social — uma desconexão crônica, quando se desconecta dos outros por um longo período de tempo. Isso representa uma ameaça à saúde pública, ligada a uma série de problemas, desde depressão até morte prematura. Segundo Rodriguez, a noção de que estar só é fundamentalmente prejudicial não apenas é falsa, mas também pode impedir que as pessoas vivenciem de forma positiva o tempo que passam sozinhas — algo inevitável e natural no cotidiano: “Passar um tempo sozinho pode ajudar a controlar emoções negativas, a se restaurar, a refletir sobre sua vida, pensar criativamente, ter novas ideias e simplesmente se conectar com você, seus objetivos e o que você quer.”
(Alessandra Corrêa. “Ficar sozinho nem sempre é
um problema”. www.bbc.com, 09.04.2025. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
Vivemos hoje uma epidemia da solidão?
A redação da Unesp 2026 apresentou como tema o questionamento: “Vivemos hoje uma epidemia de solidão?”. A coletânea, composta por cinco textos motivadores, oferece aos candidatos diferentes perspectivas sobre o fenômeno contemporâneo da solidão, permitindo compreender tanto suas possíveis causas quanto seus efeitos sobre indivíduos e sociedades. Assim, exigia-se a leitura cuidadosa dos excertos para a formulação de um ponto de vista consistente sobre o tema.
O Texto 1 contextualiza a solidão como um fenômeno característico da modernidade, uma vez que, graças aos avanços tecnológicos, a sobrevivência humana não mais depende da vida em grupo. A partir dessa perspectiva, o candidato poderia entender o isolamento como um luxo que oferece liberdade ao indivíduo para afastar-se de relações que não lhe fazem bem. Ao mesmo tempo, seria possível refletir sobre o risco de que tal isolamento deixe de ser uma escolha e se torne a regra, parte do estilo de vida pós-moderno, passando a configurar um problema.
O Texto 2, por meio do poema de Carlos Drummond de Andrade, reforça a ideia da universalidade da solidão, que atinge tanto o sujeito rural quanto o urbano. Ao mencionar elementos da modernização (carros, trens, telefones), o autor sugere que o avanço tecnológico não eliminou a solidão humana — e pode, inclusive, tê-la intensificado.
Já o Texto 3, por meio de humor, retrata a solidão como “companhia” de uma idosa. O quadrinho permite ao candidato duas leituras: uma mais filosófica, segundo a qual a solidão faz parte da condição humana, tornando-se companheira do indivíduo ao longo de sua; outra mais social, ao destacar o isolamento crescente entre pessoas idosas, fenômeno que vem crescendo nos últimos anos.
O Texto 4 apresenta a solidão como um problema de saúde pública, destacando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que associam o isolamento social a milhares de mortes anuais. Além disso, o texto ressalta um paradoxo contemporâneo: embora vivamos em uma era repleta de tecnologias que permitem múltiplas formas de conexão, muitas pessoas relatam sentir-se ainda mais isoladas.
Por fim, o Texto 5 diferencia estar sozinho de sentir-se solitário. Destaca-se que a solidão pode ocorrer mesmo em meio à multidão ou à intensa comunicação virtual, ideia já sugerida pelo texto anterior. O excerto também reforça que momentos de solitude podem ser positivos, mas que a “desconexão crônica” da vida social pode gerar impactos severos na saúde mental, como depressão. Assim, sugere-se que o problema não reside na solidão ocasional, mas no isolamento transformado em estilo de vida.
Diante do conjunto de textos da coletânea, esperava-se que o candidato:
(i) Respondesse claramente à pergunta-tema (“Vivemos hoje uma epidemia de solidão?”);
(ii) Compreendesse a relação entre modernidade/tecnologia e solidão, considerando o paradoxo da hiperconexão;
(iii) Argumentasse sobre possíveis impactos da solidão na saúde mental e/ou na vida em sociedade.
Exemplo de redação:
Durante a pandemia de Covid-19, o governo do Japão criou um Ministério da Solidão, responsável por criar políticas públicas em prol da preservação da saúde mental. Tal órgão, dedicado principalmente aos cuidados com pessoas solitárias, surgiu num contexto de intenso isolamento social, o que afetou diretamento o aumento no número de suicídios registrados no país. A tendência de aumento da solidão não é exclusiva do país asiático: pelo contrário, tal sentimento parece crescer no mundo inteiro à medida que o uso de tecnologias, como redes sociais, avança. Diante desse cenário, torna-se evidente que vivemos uma epidemia de solidão causada pela hiperconexão, fenômeno que tende a alienar o indivíduo.
De início, avalia-se que o distanciamento social é causado por um estilo de vida amplamente conectado. No livro “The Great Good Place, o sociólogo Ray Oldenburg defende que uma vida saudável depende do “terceiro lugar”, um espaço de socialização informal, fora de casa e do trabalho (os primeiro e segundo lugares, segundo a lógica do autor), em que pessoas de diferentes origens possam conviver. Se, em 1998, a obra apontava cafés, clubes e praças como exemplos, atualmente são as redes sociais que desempenham, na vida do indivíduo, esse papel de convívio. O problema dessa mudança nas relações interpessoais é que tais plataformas têm incentivado cada vez mais o consumo irrefletido, seja de conteúdo – o chamado doomscrolling –, seja de produtos, em detrimento das interações. Prova disso é a fala de Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), o qual afirma que as pessoas se sentem cada vez mais isoladas, mesmo que estejam conectadas às redes. Assim, a troca do convívio off-line pelas telas tende a enfraquecer as relações sociais, gerando uma sensação cada vez maior de solidão.
Como consequência, há um crescimento do individualismo. Ao perder o convívio cotidiano com grupos diversos, o sujeito passa a organizar sua vida de maneira cada vez mais centrada em si mesmo. As redes sociais reforçam essa tendência ao priorizar conteúdos personalizados, que confirmam opiniões prévias e reduzem o contato com perspectivas divergentes. Isso contribui para a construção de uma identidade pautada no “eu” e não no “nós”, dificultando o diálogo e a empatia, necessários para a manutenção da democracia. Exemplo disso é a “pós-verdade”, fenômeno de o indivíduo acreditar mais em sua opinião pessoal do que em fatos comprovados, muitas vezes disseminando notícias falsas e até influenciando o resultado de eleições. Dessa forma, observa-se como a solidão intensifica o individualismo, gerando uma ameaça ao convívio harmônico e à preservação da democracia.
Portanto, vivemos uma epidemia de solidão na atualidade, devido a um estilo de vida mais on-line do que off-line. Tal cenário intensifica o individualismo e ameaça a harmonia social. Enquanto os “terceiros lugares” se mantiverem no meio virtual, a sensação de isolamento tende a se perpetuar na sociedade.
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