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Para responder às questões de 26 a 28, leia um trecho do prefácio do livro Crônicas indígenas para rir e refletir na escola, do escritor indígena Daniel Munduruku.
O apanhador de absurdos
O melhor remédio para as dificuldades da vida costuma ser o bom humor. Aprendi isso com um filósofo grego que costumava usar a ironia como antídoto contra aqueles que não tinham argumentos para dialogar. Sócrates era seu nome, e ele se autoproclamava “parteiro das ideias”, porque acreditava que era preciso extrair o não saber das pessoas para que finalmente pudessem ficar livres para conhecer a verdade.
Tendo passado por muitas experiências, boas e ruins, acumulei vivências que foram me ensinando como sobreviver numa realidade tão deliciosamente contraditória como a nossa: patrícios que se amam e se odeiam num mesmo movimento histórico e existencial. Histórico porque todos vivemos no mesmo tempo, num espaço único, numa mesma canoa; existencial porque a vida é igualmente importante para uns e para outros, mas a ela não é dada a mesma importância, de modo que há pessoas que acham que merecem mais vida que outras, como se umas recebessem privilégios do Universo em detrimento de outras.
Talvez por isso quis fazer um caminho como observador dos absurdos, especialmente no que diz respeito aos povos indígenas, meu lugar de fala. Ao perceber as várias “ignorâncias” que as pessoas não percebem que cometem, fui me especializando em registrar e, a princípio, rir delas para em seguida fazer as pessoas rirem daquilo que não sabem, mas acham que sabem porque só aprenderam aquilo e, quando a gente ouve a mesma história o tempo todo, a tendência da gente é acreditar que outra história não é possível. É por isso que é bom rir dos absurdos que presenciamos, para que nossa mente fique alerta, atenta, aberta.
Para que servem estes pequenos textos que aqui lhes apresento? Para que possamos nos espantar com aquilo que nos parece óbvio, mas não é. Não é, porque pouco sabemos sobre essas populações. O que nos ensinaram tem a ver com a tal da história única contada por uma voz estridente que nunca nos ofereceu outras versões e, por conta disso, acabamos por aceitar o que nos era ensinado. Dessa maneira, acabamos ficando apenas com as sombras e nunca vemos a realidade, como outro filósofo, Platão, nos mostrou. Ele criou uma história que chamou de Mito da Caverna. Nessa narrativa, pessoas viviam presas dentro de uma caverna. Elas viviam acorrentadas de costas para a saída e podiam ver apenas as suas próprias sombras e as que passavam pelo lado de fora projetadas na parede. As sombras eram tudo o que existia. Na cabeça delas, a luz que vinha de fora era só uma ficção. Foi preciso libertá-las das correntes para que pudessem olhar a realidade de frente. No começo, elas sofreram com o brilho do Sol. Depois foram aprendendo a andar pelo mundo sempre desconfiando das coisas que lhes eram ditas. Isso é aprender.
(Crônicas indígenas para rir e refletir na escola, 2020. Adaptado.)
a) Em quais parágrafos o escritor indígena recorre a uma intertextualidade explícita? Justifique sua resposta.
b) Na comparação estabelecida no último parágrafo, a que componente do Mito da Caverna corresponderia a “história única contada por uma voz estridente”? Justifique sua resposta.
a) Daniel Munduruku recorre a intertextualidade no primeiro e no quarto parágrafos. No primeiro, parafraseia Sócrates ao afirmar que “o melhor remédio para as dificuldades da vida costuma ser o bom humor”. No quarto parágrafo, recorre à famosa alegoria do Mito da Caverna de Platão.
b) A “história única contada por uma voz estridente” refere-se ao conhecimento único que as pessoas têm dos povos indígenas, de modo que, para elas, outras histórias e outros fatos a respeito desses povos parecem absurdos. Daniel Munduruku recorre à alegoria da caverna de Platão nesse ponto: do mesmo modo que os habitantes presos da caverna têm como realidade apenas as sombras, as pessoas não indígenas enxergam como realidade, como verdade apenas “a tal da história única contada por uma foz estridente que nunca nos ofereceu outras versões”.
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