Dissertativas 27 - 2ª Fase - Dia 2 - Unesp 2025

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Questão 27

Dissertativa
27

Para responder às questões de 26 a 28, leia o poema “O ferrageiro de Carmona”, do poeta João Cabral de Melo Neto, publicado originalmente em 1987 no livro Crime na Calle Relator.

Um ferrageiro1 de Carmona2

que me informava de um balcão:

“Aquilo? É de ferro fundido,

foi a fôrma que fez, não a mão.

 

Só trabalho em ferro forjado,

que é quando se trabalha ferro;

então, corpo a corpo com ele;

domo-o, dobro-o, até o onde quero.

 

O ferro fundido é sem luta,

é só derramá-lo na fôrma.

Não há nele a queda de braço

e o cara a cara de uma forja.

 

Existe grande diferença

do ferro forjado ao fundido;

é uma distância tão enorme

que não pode medir-se a gritos.

 

Conhece a Giralda3 em Sevilha?

Decerto subiu lá em cima.

Reparou nas flores de ferro

dos quatro jarros das esquinas?

 

Pois aquilo é ferro forjado.

Flores criadas numa outra língua.

Nada têm das flores de fôrma

moldadas pelas das campinas.

 

Dou-lhe aqui humilde receita,

ao senhor que dizem ser poeta:

o ferro não deve fundir-se

nem deve a voz ter diarreia.

 

Forjar: domar o ferro à força,

não até uma flor já sabida,

mas ao que pode até ser flor

se flor parece a quem o diga.”

(João Cabral de Melo Neto. Poesia completa e prosa, 2008.)

ferrageiro1: negociante de ferro; no caso do poema, também ferreiro, ou seja, artesão que trabalha o ferro.

Carmona2: cidade espanhola.

Giralda3: Torre de Giralda, em Sevilha.

 

a) Transcreva o verso em que o eu lírico se manifesta explicitamente no poema. Justifique sua resposta.

b) Reescreva o verso “que não pode medir-se a gritos.” (4ª estrofe) na voz passiva analítica.

Resolução:

a) O verso em que o eu lírico se manifesta explicitamente é: “que me informava de um balcão”. Ao usar o pronome ‘me’, o eu lírico se dirige a ele próprio, o ‘narrador’ da história.

b) O verso “que não pode medir-se a gritos” na voz passiva analítica seria reescrito como: “que não pode ser medida a gritos.”

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