Redação - Enem Dia 1 - VERDE - Enem 2024

Gabarito

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INSTRUÇÕES PARA A REDAÇÃO

  1. O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
  2. O texto definitivo deve ser escrito à tinta preta, na folha própria, em até 30 (trinta) linhas.
  3. A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para a contagem de linhas.
  4. Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
    4.1. tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada "texto insuficiente";
    4.2. fugir ao tema ou não atender ao tipo dissertativo-argumentativo;
    4.3. apresentar parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto;
    4.4. apresentar nome, assinatura, rubrica ou outras formas de identificação no espaço destinado ao texto.

TEXTO I
Herança – o legado de crenças, conhecimentos, técnicas, costumes, tradições, transmitido por um grupo social de geração para geração; cultura.

HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009 (adaptado).

TEXTO II
     As culturas africanas e afro-brasileiras foram relegadas ao campo do folclore com o propósito de confiná-las ao gueto fossilizado da memória. Folclorizar, nesse caso, é reduzir uma cultura a um conjunto de representações estereotipadas, via de regra, alheias ao contexto que produziu essa cultura.

OLIVEIRA, E. D. A epistemologia da ancestralidade. Entrelugares: revista de sociopoética e abordagens afins, 2009.

TEXTO III

PAULINO, R. Ainda a lamentar. In: GONÇALVES, A. M. Um defeito de cor: romance. Rio de Janeiro: Record, 2024 (adaptado).

TEXTO IV

História afro-brasileira nas escolas: professoras comentam avanços e dificuldades

     As aulas sobre escravidão eram motivo de vergonha para uma professora quando ela estudava em uma escola municipal na zona sul de São Paulo. "Era o meu pior momento na escola", lembra a ex-aluna. Naquela época, a história da população negra no Brasil era reduzida ao horror do período escravocrata. Não se falava na escola sobre temas como a história e a cultura afro-brasileira, muito menos sobre as grandes personalidades negras do país, como Luiz Gama e Carolina Maria de Jesus.
     A pedagoga, que é negra, tem orgulho de oferecer uma experiência diferente da que viveu em sala de aula para seus alunos. Agora os livros infantis levados para as turmas têm protagonistas pretos. Temas como a beleza do cabelo crespo e o combate ao racismo fazem parte do dia a dia da escola.

Disponível em: http://jornal.unesp.br. Acesso em: 3 jun. 2024 (adaptado).

TEXTO V

Histórias para ninar gente grande
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira 
(samba-enredo de 2019) 

Brasil, meu nego
Deixa eu te contar 
A história que a história não conta 
O avesso do mesmo lugar 
Na luta é que a gente se encontra 
Brasil, meu dengo 
A Mangueira chegou 
Com versos que o livro apagou 
Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento 
Tem sangue retinto pisado 
Atrás do herói emoldurado 
Mulheres, tamoios, mulatos 
Eu quero um país que não está no retrato 
Brasil, o teu nome é Dandara 
E a tua cara é de cariri 
Não veio do céu 
Nem das mãos de Isabel 
A liberdade é um dragão no mar de Aracati 
Salve os caboclos de julho 
Quem foi de aço nos anos de chumbo 
Brasil, chegou a vez 
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês

Disponível em: www.mangueira.com.br. Acesso em: 30 maio 2024 (fragmento).

TEXTO VI

Alunos de escola municipal conhecem pontos do Rio que retratam relação com a África

Disponível em: www.oglobo.com. Acesso em: 29 maio 2024 (adaptado).

PROPOSTA DE REDAÇÃO

     A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil", apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Comentário:

A prova de redação do Enem 2024 convidou os candidatos a escreverem sobre o tema "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil". Apesar de não ser o tema mais esperado para este ano, os alunos, no geral, não devem ter tido dificuldades para discuti-lo em seus textos, visto que o cerne da questão, o racismo estrutural, faz-se presente no cotidiano e nas discussões escolares e sociais; ou deveria, especialmente diante da Lei n. 10.639/2003, que obriga o ensino da cultura e da história afro-brasileira. Mesmo após 20 anos da promulgação dessa lei, sabe-se que o tema ainda não é abordado em todas as escolas brasileiras, seja pela visão tradicional escolar, seja pelo preconceito estrutural, seja pela opinião pública, que, como no caso de O Avesso da Pele, retirou das escolas livros que abordam esses temas. Como uma ação afirmativa que colabora para o ensino da literatura e da cultura afro-brasileira, grandes vestibulares, como Fuvest e Unicamp, vêm incorporando, em suas listas obrigatórias, livros de autores afro-brasileiros, como Carolina Maria de Jesus, com a obra Quarto de Despejo: o diário de uma favelada, e Maria Conceição Evaristo, com a obra Canção para ninar menino grande; e moçambicanos, como Luís Bernardo Honwana, com a obra Nós matamos o cão tinhoso!, e Pepetela, com a obra Mayombe.
 
Para auxiliar os estudantes, a coletânea de textos motivadores apresentou seis textos, o que não é comum na prova do Enem, já que ela, tradicionalmente, contém quatro textos. O texto 1 trata-se de uma definição do Dicionário Houaiss sobre a palavra "herança". Nele, destaca-se que herança consiste no “legado de crenças, costumes e tradições” que são “transmitidos por um grupo de geração para geração”. Esse texto auxiliava os estudantes a compreenderem o primeiro termo nuclear da frase temática, a ideia de herança. O texto 2, de modo semelhante, explicitava o tratamento destinado às culturas africanas e afro-brasileiras, evidenciando o seu apagamento e a sua perpetuação estereotipada, em geral, preconceituosa — ou seja, explicava aos estudantes a segunda parte da frase temática. O texto 3 consistia na imagem de uma página do livro Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, com o provérbio africano “Quando não souberes para onde ir, olha para trás e saiba pelo menos de onde vens”, fundamental para evidenciar aos candidatos a importância de se conhecer o seu passado, a sua história, a sua origem e, portanto, a sua herança cultural. É preciso salientar que esse livro ganhou destaque neste ano por ter sido a base da construção do samba-enredo da Escola de Samba Portela e esgotou nas livrarias do país.
 
O texto 4, uma notícia do Jornal da Unesp, explicitava o comentário de uma professora a respeito do ensino de história afro-brasileira nas escolas, a partir da comparação entre o período em que era estudante, em que o tema era reduzido ao período escravocrata, e o momento em que é docente, em que tem a oportunidade de trabalhar com livros infantis com protagonistas negros; além de poder, em diferentes discussões, abordar a importância da representatividade por meio da valorização do cabelo crespo, por exemplo, e do combate direto ao racismo. Esse texto, com uma abordagem educacional, deixava explícito aos discentes como o ensino de história nas escolas brasileiras apagou por muitos anos o ensino de literatura e da cultura afro-brasileira.
 
O samba-enredo da Escola de Samba Mangueira, intitulado "Histórias para ninar gente grande", consistiu no texto 5. Ele abordava o apagamento da história dos negros e de seus feitos e evidenciava como o processo de colonização foi marcado por sangue e por falsos heróis, tendo em vista que a história foi contada a partir de um ponto de vista europeu. Ele destacou, ainda, como figuras negras, como Dandara, foram invisibilizadas por toda a história brasileira e como outras, a exemplo de Marielle Franco, também são, ainda, silenciadas. O texto 6, por fim, apresentava a imagem de alunos de uma escola municipal do Rio de Janeiro observando um painel de grafite com a figura de Zumbi dos Palmares, um grande líder quilombola brasileiro. Esse texto marcava, portanto, a relevância da representação, da identidade, da lembrança dos povos afro-brasileiros para o país e para a história da população brasileira.
 
Todos esses textos apresentavam inúmeras possibilidades argumentativas aos candidatos, os quais deveriam explicitar causas e/ou consequências da não valorização da herança africana no Brasil. Dentre as quais destacam-se: as raízes históricas escravocratas; o tratamento conferido à cultura e à literatura afro-brasileira nas escolas brasileiras; o apagamento de figuras negras, como Dandara e Carolina Maria de Jesus; a reprodução de visões estereotipadas e a ausência de representatividade e seus impactos para a sociedade brasileira.
 
Como pré-requisito para uma avaliação de uma redação nota máxima, o Enem solicita aos estudantes a exposição de pelo menos um repertório sociocultural, desde que pertinente ao tema, legitimado e produtivo. Em um tema como esse, que perpassa por questões históricas, sociais e culturais, inúmeros repertórios poderiam ser utilizados pelos estudantes, de forma que eles não devem ter tido dificuldade para citá-los. Destacam-se algumas possibilidades: a relação direta com o Período Colonial para fundamentar a origem do racismo estrutural e do apagamento da história africana e afro-brasileira; o apagamento de grandes nomes da história, da cultura e da literatura brasileira, como Aleijadinho, Machado de Assis e Cruz e Souza; a citação de autores, como Sérgio Buarque de Holanda, Milton Santos e Darcy Ribeiro, para sustentar a origem da formação da cultura brasileira; a explicação da visão preconceituosa por meio de grandes autoras como Djamila Ribeiro e Chimamanda Adichie; a referência a grandes obras de autores afro-brasileiros, como Quarto de Despejo: diário de uma favelada, Canção para ninar menino grande, Avesso da Pele e Pequeno Manual Antirracista; dentre inúmeras outras possibilidades.
 
A equipe de redação do Poliedro, com base na análise da coletânea e dos argumentos possíveis, citados acima, propôs um exemplo de redação para o tema deste ano:

     No álbum “Sobrevivendo no Inferno”, o grupo musical Racionais MCs denuncia a invisibilidade que os afrodescendentes enfrentam no seu dia a dia, marcado por violência física e moral. Essa obra, ao mesmo tempo em que evidencia a realidade de silenciamento da população negra, destaca a importância de resgatar as origens desse grupo social. Assim, as reminiscências da escravidão e a perspectiva eurocêntrica por meio da qual essa história é contada são desafios para a valorização da herança africana no Brasil. 
     De início, cabe discutir como a mentalidade escravocrata contribuiu para esse cenário de desvalorização. Isso acontece, pois, durante o Período Colonial, brancos acreditavam na ideia de que eram superiores a negros, o que legitimou a escravização de africanos em suas colônias e, como parte dessa ação, a imposição da cultura do colonizador. Nesse sentido, como o Brasil enfrentou mais de 300 anos de escravidão, isso alimentou, no pensamento social, a falsa lógica de inferioridade de afrodescendentes, dificultando a valorização de aspectos culturais que são herdados desse grupo na atualidade. Prova disso é o estigma que há, ainda hoje, em relação à prática da capoeira: frequentemente associada à vadiagem, tem seu caráter artístico apagado. Logo, fica evidente a continuidade da inferiorização fruto do período escravocrata. 
     Ademais, a desvalorização da cultura africana faz sobressair o eurocentrismo, responsável pela perpetuação desse preconceito estrutural. Tal questão ocorre, pois, como denunciado por Chimamanda Adichie, em seu discurso sobre “o perigo de uma história única”, crianças e jovens são ensinados, desde muito cedo, a partir de uma perspectiva eurocêntrica, a qual sobrepõe a visão do colonizador em relação à dos escravizados. Nesse contexto, mesmo leis importantes, como a de nº 10.639, que prevê o ensino de história e cultura africanas nas escolas brasileiras, apresentam pouca adesão por parte das instituições, maculando a abordagem desse conteúdo e impedindo, por isso, o contato por parte dos estudantes. Desse modo, percebe-se como a centralização do currículo na cultura europeia é um entrave para a ampliação dos conhecimentos sobre a herança dos povos africanos no país. 
     Portanto, são necessárias medidas para garantir essa valorização. Para resolver esse problema, o Ministério da Educação — visto que é a instância máxima desse setor — deve ampliar esforços para incluir a cultura e a história africanas nas escolas brasileiras, por meio de parcerias com organizações da sociedade civil que capacitem gestores e educadores para ensinar esses conteúdos, a fim de que a visão para a herança africana seja ampliada e reconhecida. Dessa forma, o Brasil estará distante do cenário frequentemente denunciado pelos Racionais e mais próximo do idealizado pela Lei nº 10.639.

Exemplo de Redação (elaborado pela Equipe de Redação do Poliedro)

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