Questão 28 - Dia 1 - Branco - Enem 2024

Gabarito

Questão 28

Objetiva
28

Falar errado é uma arte, Arnesto!

     No dia 6 de agosto de 1910, Emma Riccini Rubinato pariu um garoto sapeca em Valinhos e deu a ele o nome de João Rubinato. Na escola, João não passou do terceiro ano. Não era a área dele, tinha de escolher outra. Fez o que apareceu. Foi ser garçom, metalúrgico, até virar radialista, comediante, ator de cinema e TV, cantor e compositor. De samba.

     Como tinha sobrenome italiano, João resolveu mudar para emplacar seu samba. E como ia mudar o sobrenome, mudou o nome. Virou Adoniran Barbosa. O cara falava errado, voz rouca, pinta de malandro da roça. Virou ícone da música brasileira, o mais paulista de todos, falando errado e irritando Vinicius de Moraes, que ficou de bico fechado depois de ouvir a música que Adoniran fez para a letra Bom dia, tristeza, de autoria do Poetinha. Coisa de arrepiar.

     Para toda essa gente que implicava, Adoniran tinha uma resposta neoerudita: “Gosto de samba e não é fácil, pra mim, ser aceito como compositor, porque ninguém queria nada com as minhas letras que falavam ‘nóis vai’, ‘nóis fumo’, ‘nóis fizemo’, ‘nóis peguemo’. Acontece que é preciso saber falar errado. Falar errado é uma arte, senão vira deboche.”

     Ele sabia o que fazia. Por isso dizia que falar errado era uma arte. A sua arte. Escolhida a dedo porque casava com seu tipo. O Samba do Arnesto é um monumento à fala errada, assim como Tiro ao Álvaro. O erudito podia resmungar, mas o povo se identificava.

PEREIRA, E. Disponível em: www.tribunapr.com.br. Acesso em: 8 jul. 2024 (adaptado).

O “falar errado” a que o texto se refere constitui um preconceito em relação ao uso que Adoniran Barbosa fazia da língua em suas composições, pois esse uso

Alternativas

  1. A

    marcava a linguagem dos comediantes no mesmo período.

  2. B

    prejudicava a compreensão das canções pelo público.

  3. C

    denunciava a ausência de estilo nas letras de canção.

  4. D

    restringia a criação poética nas letras do compositor.

  5. E

    transgredia a norma-padrão vigente à época.

Gabarito:
    E

O texto aborda o preconceito linguístico em relação ao uso da língua nas canções de Adoniran Barbosa, o que se confirma na afirmação do compositor: “ninguém queria nada com as minhas letras que falavam ‘nóis vai’”. Adoniran acreditava que “falar errado é uma arte”, já que o “povo se identificava”, mas suas canções transgrediam a norma-padrão de sua época.

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