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Texto 2
1 Gosto de olhar as capas das revistas populares no supermercado nestes tempos de corrida do ouro da
classe C. A classe C é uma versão sem neve e de biquíni do Yukon do tio Patinhas quando jovem pato.
Lembro do futuro milionário disneyano enfrentando a nevasca para obter suas primeiras patacas. Era preciso
conquistar aquele território com a mesma sofreguidão com que se busca, agora, fincar a bandeira do consumo
5 no seio dos emergentes brasileiros.
Em termos jornalísticos, é sempre aquela concepção de não oferecer o biscoito fino para a massa. É
preciso dar o que a classe C quer ler – ou o que se convencionou a pensar que ela quer ler. Daí as políticas de
didatismo nas redações, com o objetivo de deixar o texto mastigado para o leitor e tornar estanque a
informação dada ali. Como se não fosse interessante que, ao não compreender algo, ele fosse beber em
10 outras fontes. Hoje, com a Internet, é facílimo, está ao alcance da vista de quase todo mundo.
Outro aspecto é seguir ao pé da letra o que dizem as pesquisas na hora de confeccionar uma revista
popular. Tomemos como exemplo a pesquisa feita por uma grande editora sobre “a mulher da classe C” ou
“nova classe média”. Lá, ficamos sabendo que: a mulher da classe C vai consumir cada vez mais artigos de
decoração e vai investir na reforma de casa; que ela gasta muito com beleza, sobretudo o cabelo; que está
15 preocupada com a alimentação; e que quer ascender social e profissionalmente. É com base nestes números
que a editora oferece o produto – a revista – ao mercado de anunciantes. Normal.
Mas no que se transformam, para o leitor, estes dados? Preocupação com alimentação? Dietas
amalucadas. A principal chamada de capa destas revistas é alguma coisa esdrúxula como: “perdi 30 kg com
fibras naturais”, “sequei 22 quilos com cápsulas de centelha asiática”, “emagreci 27 kg com florais de Bach e
20colágeno”, “fiquei magra com a dieta da aveia” ou “perdi 20 quilos só comendo linhaça”. Pelo amor de Deus,
quem é que vai passar o dia comendo linhaça? Estão confundindo a classe C com passarinho, só pode.
Quer reformar a casa? Nada de dicas de decoração baratas e de bom gosto. O objetivo é ensinar como
tomar empréstimo e comprar móveis em parcelas. Ou então alguma coisa “criativa” que ninguém vai fazer, tipo
uma parede toda de filtros de café usados. Juro que li isso. A parte de ascensão profissional vem em matérias
25 como “fiquei famosa vendendo bombons de chocolate feitos em casa” ou “lucro 2500 reais por mês com meus
doces”. Falar das possibilidades de voltar a estudar, de ter uma carreira ou se especializar para ser promovido
no trabalho? Nada. Dicas culturais, de leitura, filmes, música, então, nem pensar.
Cada vez que vejo pesquisas dizendo que a mídia impressa está em baixa penso nestas revistas. A
internet oferece grátis à classe C um cardápio ainda pobre, mas bem mais farto. Será que a nova classe média
30 quer realmente ler estas revistas? A vendagem delas é razoável, mas nada impressionante. São todas
inspiradas nas revistas populares inglesas, cuja campeã é a “Take a Break”. A fórmula é a mesma de uma
“Sou + Eu”: dietas, histórias reais de sucesso ou escabrosas e distribuição de prêmios. Além deste tipo de
abordagem, também fazem sucesso as publicações de fofocas de celebridades ou sobre programas de TV –
aqui, as novelas.
35 Sei que deve ser utopia, mas gostaria de ver publicações para a classe C que ensinassem as pessoas a
se alimentar melhor, que mostrassem como a obesidade anda perigosa no Brasil porque se come mal.
Atacando, inclusive, refrigerantes, redes de fast food e guloseimas, sem se preocupar em perder anunciantes.
Que priorizassem não as dietas, mas a educação alimentar e a importância de fazer exercícios e de levar uma
vida saudável. Gostaria de ver reportagens ensinando as mulheres da classe C a se sentirem bem com seu
40 próprio cabelo, muitas vezes cacheado, em vez de simplesmente copiarem as famosas. Que mostrassem
como é possível se vestir bem gastando pouco, sem se importar com marcas.
Gostaria de ler reportagens nas revistas para a classe C alertando os pais para que vejam menos
televisão e convivam mais com os filhos. Que falassem da necessidade de tirar as crianças do computador e
de levá-las para passear ao ar livre. Que tivessem dicas de livros, notícias sobre o mundo, ciências, artes – é
45 possível transformar tudo isso em informação acessível e não apenas para conhecedores, como se a cultura
fosse patrimônio das classes A e B. Gostaria, enfim, de ver revistas populares que fossem feitas para ler de
verdade, e que fizessem refletir. Mas a quem interessa que a classe C tenha suas próprias ideias? (Cynara
Menezes, 15/07/2011, em: http://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-quer-a-classe-c)
Considere as seguintes afirmações relativas a aspectos sintático-semânticos do texto
Está correto o que se afirma apenas em
I.
I e II.
II.
II e III.
III.
Poliedro Resolve ITA 2012 - Português e Inglês
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